Alam José da Silva Lima
Núcleo de Pesquisa
Entre as muitas preciosidades do setor de Obras Raras, da Biblioteca Pública Arthur Vianna (BPAV), encontram-se os antigos álbuns do Pará e de Belém, possuidores de uma grande riqueza de informações para os pesquisadores especializados ou para o público em geral.
Neste artigo, trataremos de comentar um pouco a respeito dos álbuns publicados pelo Estado do Pará, pela Intendência de Belém ou por particulares no final do século XIX e início do século XX, destacando suas características principais e sua importância como “janelas” para o passado da nossa cidade e do Estado do Pará através de suas preciosas fotografias e informações.
Não é de hoje que para os pesquisadores que querem estudar o passado de Belém e mesmo do nosso Estado existem muitas dificuldades em se encontrar os registros fotográficos de edificações, ruas, praças, monumentos, etc. que outrora existiram ou foram modificados com o tempo. Os álbuns publicados no nosso Estado possuem a capacidade de suprir, em parte, essas dificuldades. Neles são apresentados os registros fotográficos de uma cidade em transformação, na qual ruas estreitas davam lugar a avenidas, novas edificações substituíam construções acanhadas, praças e monumentos embelezavam a paisagem. Nesse sentido, os álbuns revelam o “progresso” que chegava à nossa região, oriundo da riqueza da produção da borracha, e que devia ser mostrado como propaganda do sucesso alcançado pelos administradores do Estado e de sua bela capital Belém. Passemos agora a analisar cada álbum e o que nos revelam os seus conteúdos.
Em 1898 aparecia no Pará o “Album descrittivo annuario dello Stato del Pará/ 1898”. Esta publicação particular foi impressa na Itália, mais precisamente em Gênova, a mando do Sr. Arthur Caccavoni. As razões para a sua confecção aparecem no título do próprio álbum ao afirmar que era destinado exclusivamente para os estabelecimentos financeiros, industriais, comerciais e aos viajantes (italianos) ao Pará. A intenção desta obra era “vender” a imagem da nossa região como área de atração para os investimentos dos industriais e comerciantes italianos que estivessem dispostos a arriscar os seus capitais e produtos no norte do Brasil. E visava ainda atrair parte da população italiana pobre, grandemente disponível na época, para ser utilizada como mão de obra especializada na região.
No ano seguinte, confeccionou-se a segunda edição do “Album descriptivo” sendo que agora era intitulado de “Album Descriptivo Amazonico/ 1899”. Ainda de autoria de Arthur Caccavoni, agora abrangia os Estados do Pará e do Amazonas. Novamente impresso em Gênova na Itália, possuía muito mais fotografias e um número bem maior de páginas. Outra novidade foi a edição ser bilíngüe, em italiano e português, com uma tiragem de mil exemplares. A primeira edição ganhou um prêmio na Exposição Geral Italiana de Turim em 1898. E devido ao sucesso, esta segunda seria distribuída no Brasil e na Europa e, principalmente, no maior evento a ser realizado no ano seguinte, a grande Exposição Universal de Paris de 1900.
A intenção do Sr. Caccavoni continuava a ser de fazer a propaganda da região amazônica na Europa, sendo que além da Itália queria atingir também Portugal, Espanha e a França, que eram naquele período, países com forte fluxo de emigrantes. Assim, fazia toda uma apologia de nossa região e de suas “vantagens” para atrair cada vez mais mão de obra estrangeira, além de estabelecer relações comerciais entre os países.
O “Album Descriptivo” de 1899 apresenta dessa vez as biografias dos homens fortes da política nacional e regional, tais como o Presidente Campos Salles, o Governador do Pará Paes de Carvalho, o Intendente de Belém Antonio Lemos, etc. Do Estado do Amazonas comparecem na edição, o Governador José Cardoso Ramalho, e o Sr. Eduardo Gonçalves Ribeiro, Presidente do Congresso do Estado do Amazonas.
Como de costume, a edição traz muitas informações sobre a região amazônica, tais como o histórico, a geografia, os aspectos humanos, as casas e estabelecimentos comerciais. Tudo acompanhado de muitas fotografias de belas edificações públicas, propagandas de anunciantes e de seus produtos, etc. Esteticamente é bem acabado, com anúncios de produtos coloridos, e novamente belas fotografias em preto e branco. Além disso, possui dois mapas inclusos, um de Belém e outro de Manaus.
No mesmo ano aparecia o primeiro álbum do Governo do Estado do Pará, o chamado “Album do Pará em 1899”. Foi publicado no governo do Sr. Dr. José Paes de Carvalho, contendo os textos da sua “parte descritiva” realizados pelo Dr. Henrique Santa Rosa. Todas as fotografias presentes são de F. A. Fidanza, renomado fotógrafo em atividade no Pará.
Este álbum não apresenta o local de sua confecção, sendo o mais provável que tenha sido impresso na Europa. É apresentado em três idiomas: o português, o italiano e o alemão. Tal situação reflete o período da vinda dos imigrantes europeus para o Brasil no final do século XIX e início do XX, processo na qual, italianos e alemães figuravam entre os mais numerosos. A Amazônia, não era diferente do restante do país e também buscava a mão de obra especializada para a sua economia, que se expandia muito neste momento com os lucros advindos da extração da borracha.
Na sua parte descritiva, o álbum de 1899 contempla o histórico do Estado do Pará desde a sua fundação no século XVII até o ano de sua publicação, apresentando de forma resumida os fatos e acontecimentos considerados memoráveis sobre a capital e o interior do Estado. Também fornece dados estatísticos sobre a população, dados geográficos, a produção econômica, educação, segurança, etc. Todas essas informações são acompanhadas por belas fotografias em preto e branco, contemplando edificações públicas, paisagens naturais, meios de transporte, etc. Um destaque é a bela tomada do alto da cidade de Belém, mostrando vários pontos da cidade e o seu porto, tudo ornado com uma bela moldura.
A Intendência de Belém (nos dias de hoje a Prefeitura), por sua vez, no ano de 1902 lançou o seu próprio álbum intitulado “Album de Belém: Pará 15 de novembro de 1902”. Nessa época o Intendente era o senador Antônio José de Lemos, o qual mandou fazer esta obra em Paris. Tal fato evidencia como a Intendência de Belém possuía muitos recursos na época, a ponto de encomendar o álbum na prestigiada Paris.
As fotografias que compõe a edição foram de autoria mais uma vez de F. A. Fidanza, apresentando a costumeira qualidade. Esteticamente a publicação apresenta uma bela encadernação rígida, contendo um belo desenho com tema de plantas e frutos e título na cor dourada. O brasão de Belém aparece belamente decorado a cores. A data que aparece na capa provavelmente estava relacionada com os 13 anos da Proclamação da República no Brasil, sendo uma homenagem da nossa Intendência.
A publicação mostra um “panorama” das principais construções da cidade de Belém. São apresentadas fotografias em preto e branco das edificações públicas, religiosas, praças, hospitais, monumentos, etc. mencionadas no texto, com breve explicação sobre as mesmas. Aqui o objetivo do álbum era de mostrar, através das fotografias e explicações do que era retratado, do quanto a cidade de Belém se desenvolveu tornando-se uma grande metrópole, tudo fruto é claro, do trabalho do Intendente Antonio Lemos.
Após um intervalo de nove anos, o Governo do Estado lançava um novo álbum intitulado de “Album do Estado do Pará/ 1908”. Foi mandado organizar e publicar pelo então Governador o Sr. Dr. Augusto Montenegro. O objetivo da obra era comemorar os oito anos de seu mandato (1901-1909) e as suas realizações nesse período.
O álbum foi impresso na cidade de Paris pela “Imprimerie Chaponet”, com uma bela encadernação em tecido gravada em cores e dourada. Apresenta os dizeres do brasão do Estado do Pará nas duas laterais e uma imagem da cidade de Belém vista da baía do Guajará. De longe foi um dos melhores álbuns já produzidos pelo Estado do Pará pela sua grande qualidade gráfica e pelo grande número de fotografias existentes. Um fato interessante a ser destacado é que não aparecem os créditos das fotos que o compõe, sendo o mais provável terem sido realizadas pela mesma tipografia que fez o álbum.
O texto apresenta traduções em francês e inglês, devido aos dois idiomas mais importantes daquele tempo por motivos culturais e comerciais. Como de costume, o conteúdo do álbum destaca o breve histórico do Pará, suas riquezas naturais, geografia, etc. Não poderia faltar também a apresentação da organização política do Estado, com o destaque para os grandes nomes da política local. Todas as realizações do governo de Augusto Montenegro são destacadas, incluindo nos municípios do interior, tudo com muitas fotografias em preto e branco. A obra inclui ainda três mapas (mapa geológico, político e carta da cidade de Belém).
Por fim, em 1939 temos a publicação daquele que foi o último álbum a ser produzido pelo Governo do Estado, o então “Album do Pará/ 1939”. Foi organizado e impresso pelo Governo do Estado com o apoio da Associação Comercial do Pará, na época do interventor Federal, o Sr. Dr. José Carneiro da Gama Malcher. O seu organizador e editor foi o Sr. Hildebrando Rodrigues.
Dessa vez, a publicação ficou a cargo da Tipografia “Novidades” da cidade de Belém, ao contrário do álbum anterior publicado e impresso no exterior. Por essa mesma razão, não apresenta a mesma qualidade gráfica dos anteriores como comentaremos adiante. A obra é apresentada com uma capa rígida de tecido na cor escura, com uma gravura contendo alguns elementos reconhecidos da cidade de Belém. A composição, no entanto, transmite uma austeridade excessiva não observada nos álbuns anteriores.
Outra distinção deste álbum para os demais fica patente na qualidade do papel que foi empregado aqui. Ao longo da obra, percebe-se a perda da homogeneidade em relação às páginas da mesma. As fotografias em preto e branco, por sua vez, foram realizadas por três fotógrafos: Eduardo Kratzeisntein, Aristobulo Titan e Fritz Ackermann. Nesse caso, não há uma preocupação com o caráter estético das fotos, mas apenas a intenção de ilustrar o que é comentado no texto.
Enfim, a obra está voltada para enfatizar as realizações do governo no período. Estamos falando dos finais dos anos 30, quando a “época áurea” da borracha e da “Belle Époque” já havia passado, levando embora o fausto e riquezas para bem longe da região. Isso fica evidente nas obras e realizações do governo aqui apresentadas, que já não refletem o requinte e a grandiosidade da época anterior. As fotografias em preto e branco de Belém ao longo das páginas são vislumbres da capital, com os seus monumentos e edificações do passado em meio às incertezas do seu futuro.