Alam José da Silva Lima

Núcleo de Pesquisa

No ano de 1889 seria realizada mais uma Exposição Universal, e dessa vez a cidade escolhida para sediar o evento era Paris, capital da França. Esta era uma grande oportunidade para os países do mundo mostrarem os seus mais valiosos produtos, nesse evento que era a maior “vitrine” existente na época.

O tema da Exposição era o centenário da Revolução Francesa (1789-1889), o que acabou por desagradar a muitos dos países monarquistas, que boicotaram o evento.[1] Ao todo participaram apenas 35 países oficialmente. O evento denominado em francês Exposition Universelle de Paris, foi inaugurado no dia 06 de maio com a presença do presidente francês Sadi Carnot (1837-1894).

A Exposição estava organizada espacialmente em três áreas da cidade parisiense: O Champ–de–Mars, o Trocadéro e a Esplanade des Invalides, cobrindo o total de 96 hectares. A Torre Eiffel, estrutura mais alta do mundo naquela época, era a entrada principal da Exposição e foi construída especialmente para a mesma pelo engenheiro Gustave Eiffel (1832-1923). Deve-se destacar que, este evento se caracterizou pela presença de grande quantidade de estruturas arquitetônicas, realizadas em ferro e aço.

Vista geral da área da Exposição de Paris de 1889
Vista geral da área da Exposição de Paris de 1889

O evento grandioso atraiu mais de 61.722 expositores oficiais, sendo que 25 mil vieram de fora da França. Calcula-se em cerca de 32 milhões o número de pessoas que visitaram a Exposição nos seis meses de duração.  A receita de todo o evento foi na casa de 49, 5 milhões de francos. A Exposição era uma maneira encontrada pelos franceses de estimular a sua economia e tirá-la de uma grande recessão. Houve, portanto, um esforço de três frentes para a sua organização, com recursos do Estado francês, da cidade de Paris e de setores privados da sociedade.

Vista da Galeria de Belas Artes da Exposição Universal de Paris em 1889
Vista da Galeria de Belas Artes da Exposição Universal de Paris em 1889

O Brasil Imperial foi um dos muitos países que participaram de forma “não-oficial” da Exposição, através de comissão particular organizada por empresários, jornalistas e de representantes de algumas das suas províncias. A Comissão Franco-brasileira criada era presidida pelo Sr. Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque, o Visconde de Cavalcanti, que tomou todas as providências para organizar e dirigir a exposição dos produtos brasileiros em Paris. No caso da Província do Pará, na época presidida por Miguel José de Almeida Pernambuco (1839-1898), o conselheiro Tito Franco de Almeida (1829-1899), foi escolhido como o Presidente paraense da Comissão na Exposição Universal. O Pará foi instado a participar por possuir uma grande “variedade e riqueza dos seus produtos naturais”, nos dizeres do Presidente Sr. Miguel Pernambuco, na carta que dirigiu para o Sr. Tito Franco.

A província paraense deveria remeter para o Rio de Janeiro um “rol” de seus produtos mais importantes, para uma feira a ser realizada no dia 11 de novembro de 1888, e que seria uma “prévia” da grande Exposição Universal. Todos os produtos ali reunidos, seriam remetidos para a França, posteriormente. O delegado responsável pelos produtos do Pará seria o então Barão de Marajó, o Dr. José Coelho da Gama e Abreu (1832-1906), que também era membro da Comissão franco-brasileira para a Exposição.

Comissão de delegados brasileiros em Paris em 1889
Comissão de delegados brasileiros em Paris em 1889

A participação paraense e brasileira foi contada através de uma obra intitulada “O Pará na Exposição Universal de Paris em 1889”, editada em Belém no ano de 1890, pela Tipografia de Pereira & Faria. Ela faz parte do acervo da BPAV (Biblioteca Pública Arthur Vianna), existente na Seção de Obras Raras.

Folha de rosto da obra “O Pará na Exposição Universal de Paris em 1889”. Nota-se que a obra foi doada pelo próprio Barão de Marajó para a Biblioteca Pública do Pará]
Folha de rosto da obra “O Pará na Exposição Universal de Paris em 1889”. Nota-se que a obra foi doada pelo próprio Barão de Marajó para a Biblioteca Pública do Pará]

A obra possui 86 páginas, sendo dividida em duas partes. A incumbência da mesma recaiu sobre o Barão de Marajó. A primeira parte intitulada “Breve relatório sobre a Exposição Brazileira”, comenta o papel do Brasil e do Pará no evento. Inicialmente fala de como o nosso país estava instalado no espaço da Exposição, com um pavilhão de três pavimentos, cobrindo uma área de 400 metros quadrados. Este era constituído por uma galeria aberta, que ligava o mesmo com uma estufa de plantas (estrutura octogonal de ferro e vidro), e os três espaços que formavam nichos cobertos de cúpulas. Destaca o autor, a existência de um anexo, construído especialmente para destacar o café brasileiro, que era vendido por 10 cêntimos ao público da exposição. Havia ainda um lago, contendo plantas nacionais, como a vitória-régia, etc. O pavilhão brasileiro ficava nas proximidades da Torre Eiffel.

[IMAGEM – Vista do lago existente no pavilhão do Império do Brasil, mostrando as vitórias-régias.]

Além do pavilhão do Brasil, havia outra área da Exposição Universal com destaque para a cultura brasileira. Na parte relativa aos tipos de habitação humana ao longo do tempo, havia uma exposição de peças amazônicas. Na chamada “Casa amazônica” havia ídolos, vestuários e utensílios dos indígenas, tais como cerâmicas da Ilha do Marajó. No total foram 190 objetos expostos, incluindo uma “cabeça mumificada”, oriunda de tribos do interior da Província do Pará.

O Pavilhão do Império do Brasil na Exposição Universal de Paris em 1889
O Pavilhão do Império do Brasil na Exposição Universal de Paris em 1889

Os produtos expostos pelo Brasil eram muitos diversificados: produtos agrícolas; carvão em pedra; amianto; peles de animais; açúcar; chocolate; tecidos; vidros; olaria; móveis; tabacos; café; cacau; madeiras; ferro; fibras têxteis, etc.

No caso das madeiras, o Pará rico dessa fonte natural, mandou amostras numerosas, mas em um tamanho reduzido e com formas irregulares, o que não destacou uma das maiores produções naturais da província. As fibras têxteis, que também eram abundantes em nossa produção econômica foram mal representadas, sendo que a maior parte enviada para a exposição era oriunda do Ceará, de Pernambuco e de Minas Gerais.

O barão destaca o cacau do Pará e do Amazonas, muito apreciado no exterior, que estava bem representado na grande Exposição. Este, no entanto, chamava atenção para a concorrência do cacau de Pernambuco, Espírito Santo e da Bahia, que possuíam produto com melhor aspecto que o nosso.

E o nosso principal produto de exportação na época não poderia faltar na Exposição: a borracha, oriunda dos seringais. Esta riqueza natural estava representada em um “stand” nas suas mais diferentes formas e estados.

Outra vista do pavilhão do Império do Brasil. Observa-se na parte inferior direita uma das bases de fixação da Torre Eiffel
Outra vista do pavilhão do Império do Brasil. Observa-se na parte inferior direita uma das bases de fixação da Torre Eiffel

No que diz respeito aos produtos cerâmicos modernos, a província paraense enviou os representantes de duas olarias: a da viúva Nougués e da olaria do Una, com amostras de telhas, cerâmica comum, etc.

Na parte relativa à Imprensa e aos artigos de livraria (papelaria), o Pará apresentou exemplares da produção de jornais da “Província do Pará”, de Antônio J. de Lemos, recebendo uma menção honrosa por conta da técnica de impressão sobre a seda.

Ao final dos concursos existentes, o Pará conquistou os seguintes prêmios na Exposição Universal: 02 grandes prêmios (borracha do Pará); 03 medalhas de prata (cerâmica, vinho de caju, espécies de féculas); 05 medalhas de bronze (fotografia, madeiras, cola de peixe, telhas e tijolos, tipos

de barcos a vapor); e 02 menções honrosas (quadro de folhas naturais, jornal – impressão sobre seda).

O número total de expositores enviados pelo Brasil foi de mais de 835, conquistando os seguintes prêmios: 23 grandes prêmios; 80 de ouro; 146 de prata; 175 de bronze e 161 menções honrosas, totalizando 585 premiações.

Na segunda parte da obra encontra-se a “Memoria sobre fibras têxteis vegetais/ Apresentadas na Exposição Universal de Paris de 1889 pelo

Vista do lago existente no pavilhão do Império do Brasil, mostrando as vitórias-régias.
Vista do lago existente no pavilhão do Império do Brasil, mostrando as vitórias-régias.

delegado da Província do Pará, Barão de Marajó/ dezembro de 1889, – Pará”. Aqui o autor apresenta os seus estudos e observações sobre as fibras têxteis, apresentadas na Exposição Universal de Paris pelos diferentes países presentes. E destaca as apresentadas pelo Brasil, esperando que em pouco tempo nosso país pudesse obter e lançar no mercado mundial grande quantidade de fibras têxteis, úteis para a tecelagem e para a fabricação de papel.  Argumentava que o Brasil poderia alcançar uma nova fonte de renda com uma produção bem estabelecida destes produtos.

Na segunda parte desta memória, apresenta as várias fibras têxteis vegetais brasileiras e as suas produções. O barão encerra a mesma sendo de parecer de que o governo brasileiro fizesse mais esforços para aproveitar as fibras têxteis e exportá-las principalmente para a Europa, criando com essa ação, um novo ramo de comércio para o Brasil.

Ironicamente, 15 dias após o término da Exposição Universal parisiense, que fora boicotada pelas monarquias do mundo, o Brasil deixava de ser uma monarquia imperial, por conta de um golpe militar que instituiu o regime republicano no país. No entanto, continuaria a participar das próximas edições da Exposição sob o novo regime político.

A obra aqui analisada pode ser consultada on-line no site da FCP, no Acervo Digital da Seção de Obras Raras, na parte dos Livros no endereço:  www.obrasraras.fcp.pa.gov.br

Fontes das imagens e informações utilizadas no artigo:

_____________O Pará na Exposição Universal de Paris em 1889. Belém: Typ. de Pereira & Faria, 1890.

www.bie-paris.org/site/fr/1889-paris, acessado em 22/01/24.

www.brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/4941, acessado em 22 e 23/01/24.

www.unjourdeplusaparis.com/paris-reportage/exposition-universelle-1889 , acessado em 22/01/24.

www.pt.frwiki.wiki/wiki/exposition_universelle_de_Paris_de_1889 , acessado em 22 e 23/01/24.