Lo Stato del Parà a Torino 1911: O Pará na Exposição Universal de 1911
Alam José da Silva Lima
Núcleo de Pesquisa
Em 1911 realizou-se mais uma edição das chamadas “Exposições Universais”, “Exposições Internacionais” ou “Feiras Mundiais”, que se tornaram moda desde a primeira, realizada em 1851 no Hyde Park em Londres. Dessa vez o lugar escolhido para sediar este grandioso evento foi a cidade italiana de Turim.
Tratava-se de um evento que servia, entre outras coisas, como uma “vitrine” para apresentar os países, suas economias e suas culturas para o resto do mundo. Como vários dos países que queriam vender uma imagem positiva e de sucesso, principalmente econômico, o Brasil estava entre os seus participantes. No caso da Exposição Universal de Turim participaram mais de 30 países, alguns atualmente extintos. Era o caso do Império Austro-Húngaro, Reino da Bulgária, Reino da Sérvia, Sião e Império Russo.
Foi inaugurada com o título oficial de “Esposizione Internazionale dell’Industria e del Lavoro” no dia 29 de abril de 1911. Comemorava os 50 anos da Proclamação do Reino da Itália, ou seja, uma data ligada ao processo de unificação italiana (1848-1871). A cerimônia de inauguração da mesma contou com a presença do rei Vittorio Emanuelle III (1900-1946), e demais representantes dos muitos países convidados. Um dia após a abertura “oficial” foi liberada para o grande público.
A área do evento cobria 1.200.000 m2, sendo 350.000 m2 destinados aos pavilhões dos países participantes. Estava instalada no “Parco del Valentino”, situado às margens do Rio Pó, e que havia passado por uma ampliação para acomodá-la de forma mais conveniente.
A temática da exposição era sobre o progresso industrial e manufatureiro. O número de pavilhões construídos mostrava a grandiosidade do evento, pois havia o Palácio da moda, o Pavilhão da arte aplicada na indústria, o Pavilhão de Turim, o Palácio das Exposições Temporárias, etc.
Além dos pavilhões temáticos havia os pavilhões dos países. E alguns estados tinham pavilhões próprios, enquanto outros tinham os seus produtos em expositores ou estandes especiais. O pavilhão do Brasil fora construído entre os anos de 1910 – 1911, com uma área de 8.000 m2.
Segundo fontes italianas, o Brasil se apresentaria em 3 grandes pavilhões: o de Honra, o Central e na Seção Italiana. O primeiro, teria produtos não perecíveis, decorações, e sínteses da Arte e História brasileiras. O segundo, teria exposição da riqueza brasileira, com informações estatísticas sobre o nosso progresso alcançado. O terceiro, seria em honra da colônia italiana no Brasil, mostrando o “bem-estar” dos estrangeiros no Brasil, a “abundancia” em que viviam, e as garantias das leis brasileiras que os “amparavam”. Vale ressaltar aqui que, provavelmente, o Guia italiano não estivesse tão correto sobre estas afirmações, pois no Brasil da época, nem sempre os direitos dos imigrantes e mesmo dos trabalhadores nacionais eram respeitados.
De volta ao pavilhão brasileiro, cada estado participante concorreria com os seus elementos característicos, tais como suas riquezas naturais, os seus recursos econômicos, os costumes e suas ideias. O estado do Pará possuía um estande para divulgar os seus produtos, no caso, as suas ricas madeiras e a borracha, que segundo afirmavam as fontes, fizeram um grande sucesso.
Sobre a participação do Brasil no evento, de acordo com uma publicação oficial em italiano:
“Il Governo del Brasile riconosce che i territori vastissimi degli Stati e le sue straordinarie ricchezze naturali, per raggiungere nell’ economia nazionale il posto che è di competenza esigono due elementi necessari e principali: il lavoratore e il capitale.
All’ Esposizione di Torino, il Brasile sará pertanto uma vera apoteosi a questi due grandi fattori, vita dei paesi nuovi com sogni e ideali a realizzare”. [1]
Em outras palavras, o texto do Guia mostra alguns dos desafios que o governo brasileiro enfrentava: ter dimensões gigantescas com muitas riquezas e pouca mão de obra para trabalhar a terra. Dessa forma, os Estados necessitavam de trabalhadores experientes e de recursos econômicos para fomentar a economia dos mesmos. Era para resolver essas questões que o Brasil precisava fazer a sua propaganda na Feira Internacional.
Além dos pavilhões dos países e dos oficiais da Feira havia vários outros eventos que tiveram curso tais como: concursos variados, festas, congressos, competições esportivas, musicais, etc. Ao final da Exposição, no dia 19 de novembro do mesmo ano, a mesma recebera um total de 7.000.000 visitantes.
[1] Tradução livre: “O Governo do Brasil reconhece que os vastos territórios dos Estados e suas extraordinárias riquezas naturais requerem dois elementos necessários e principais para alcançar o lugar que lhe cabe na economia nacional: o trabalhador e o capital. Na Exposição de Turim, o Brasil será, portanto, uma verdadeira apoteose desses dois grandes fatores, a vida de novos países com sonhos e ideais a realizar”. La Guida Tricolore rimborsabile di Torino e della Esposizione del 1911. Milano: F. de Rio, 1911, p. 166.
[1] Tradução livre: “O Governo do Brasil reconhece que os vastos territórios dos Estados e suas extraordinárias riquezas naturais requerem dois elementos necessários e principais para alcançar o lugar que lhe cabe na economia nacional: o trabalhador e o capital. Na Exposição de Turim, o Brasil será, portanto, uma verdadeira apoteose desses dois grandes fatores, a vida de novos países com sonhos e ideais a realizar”. La Guida Tricolore rimborsabile di Torino e della Esposizione del 1911. Milano: F. de Rio, 1911, p. 166.
Uma publicação produzida pelo governo do Pará foi impressa em 1911 a respeito do nosso estado na Exposição Universal de Turim. Exemplares dela se encontram na Seção de Obras Raras da Biblioteca Arthur Vianna, disponível em mídia digital. Passemos agora a sua análise mais detalhadamente.
Trata-se da obra intitulada “Lo Stato del Parà (Brasile) a Torino 1911”, obra com característica de “Pubblicazzione Ufficiale per L’Esposizione Internazionale di Torino”. Ou seja, foi impressa exclusivamente para o evento internacional, com o intuito de fazer a propaganda de nosso Estado no exterior, não somente para os italianos, mas para o mundo. Essa observação é válida, pois a mesma obra também foi publicada em francês, idioma da “Belle Époque”, que ainda vivenciávamos.
Aparentemente não apresenta autoria, mas em um exemplar existente no setor de Obras Raras da Biblioteca Arthur Vianna, temos uma dedicatória para a redação do jornal “Estado do Pará” em que consta o nome de J. A. Mendes. Seria este o seu autor oculto?
Nesta versão, escrita em italiano (existe a versão em francês) apresenta-se um panorama do estado do Pará naquele período. No seu início, intitulado “Movimento Artistico del Pará”, fala das origens da arte no nosso estado, desde a época anterior à Conquista, destacando os aspectos “primitivos” da cultura dos primeiros habitantes do território. Tudo de acordo com as ideias e concepções da época sobre o papel dos indígenas na sociedade, vistos ainda com bastante preconceito.
Segundo a obra, foi somente após a Proclamação da República que o nosso estado se tornou, em termos de arte, o 3º principal, atrás apenas do RJ e de São Paulo. Fala da pintura que nesse momento era bem apreciada pelos paraenses. Por isso, o governo do estado e o município de Belém investiram em obras de artistas nacionais e estrangeiros de grande reputação. Entre estes destacavam-se os italianos De Angelis e Capranesi, responsáveis pela arte do Theatro da Paz e da Catedral metropolitana de Belém.
Havia em Belém muitas galerias privadas com obras variadas de artistas como Carlos de Azevedo, Lopes Pereira, Theodoro Braga, Antonio Parreiras, etc. Na escultura, destacavam-se as obras realizadas nas praças e lugares públicos da capital. São citadas as obras de arte do Bosque Rodrigues Alves e a bela estátua de Frei Caetano Brandão, cujo desenho foi de “De Angelis” e execução de E. Quattrini em Roma.
Sobre a arquitetura, o texto dá ênfase em poucas construções, tais como a Livraria Universal e a loja Paris n’América. Cita também outros edifícios como o do Hospital da Beneficente Portuguesa; a da Província do Pará; o Palácio Lauro Sodré, e a escola Gentil Bittencourt, etc. Sobre a arquitetura religiosa, comenta sobre a Catedral da Sé, cujo interior era artisticamente mais interessante do que o seu exterior, com obras de arte do artista De Angelis. Já a Igreja das Mercês, era considerada a mais bela existente na nossa capital.
No que dizia respeito ao lado musical, o autor fala da sua importância para o Pará que possuía até um Instituto de Música (Hoje conservatório e Fundação Carlos Gomes), que fora dirigido até a sua morte pelo grande maestro Antônio Carlos Gomes (1836-1896). E que no teatro da capital (Theatro da Paz), havia muitas apresentações que eram realizadas por artistas italianos e franceses. Os paraenses, pelo menos os da época, amavam o teatro sendo este “a sua única diversão predileta”.
Todas essas informações visavam a situar o leitor nos “progressos” pelas quais passava a capital do Pará e o estado, no que era chamado de “melhoramento estético”. E que além disso, vieram também os melhoramentos técnicos. A estrada de Ferro Belém-Bragança possibilitou o fim da distância que havia da capital para os centros agrícolas e industriais do restante do estado. Os rios que no momento, estavam lotados de embarcações nacionais e estrangeiras, faziam a ligação da capital com o interior do vale amazônico.
E ao final da parte introdutória da obra se destacam as conquistas do Pará no que diz respeito às melhorias das condições do mesmo na sua capacidade elétrica, na saúde, na educação, etc. No caso específico da saúde, o seu combate contra a Febre Amarela foi decisivo para pôr fim neste flagelo que prejudicava a sua imagem no exterior. A partir de então, o Pará estava livre para se abrir para o mundo.
A partir deste ponto, a obra trata da situação econômica e financeira do estado do Pará, apresentando os dados sobre a borracha. Diz que no período de vinte anos, as rendas cresceram 400% por conta do produto, e as exportações e negócios cresceram de forma igual.
Além disso, este crescimento estava ligado diretamente aos administradores políticos do Pará, considerados de muita sabedoria no que tangia aos negócios e no seu cuidado com a coisa pública. Dessa forma, o estado não possuía dívida externa maior do que a sua receita, que só aumentava, segundo os dados apresentados.
As leis existentes no que diz respeito ao acesso à terra foram melhoradas, de forma que os empresários que estivessem interessados na produção gomífera ficassem amparados, possibilitando assim o aumento da produção e o número dos produtores da borracha no Pará.
A participação do estado do Pará na Exposição Universal de Turim tinha como objetivo apresentar para o mundo um “balanço oficial” da maior parte da produção econômica do estado. Tratava-se de mostrar que o Pará estava crescendo economicamente e queria um lugar no rol dos centros produtivos internacionais. Era uma forma de modificar a impressão de que o estado era atrasado econômica e socialmente.
Nessa parte, a obra inclui dados geográficos do estado do Pará, com as suas dimensões, o seu clima, etc. Também apresenta dados sobre as suas produções naturais, sobre os meios de transporte marítimos, destacando o número de navios existentes, as empresas e as suas rotas para os principais portos do mundo.
A partir desse trecho, as principais produções econômicas são anal
isadas de forma individualizada. São apresentadas as informações sobre a produção (quantidade, anos de produção, valores, etc.) do cacau, castanha, óleo de copaíba, cola de peixe, peles diversas, couro de boi, madeiras, tabaco, guaraná, etc.
A produção da “Hevea Brasiliensis”, a seringueira, no estado do Pará também é apresentada e contada em detalhes. A existência de terras livres para o seu cultivo e as condições de venda das mesmas é apresentada, como uma forma de “atração” para os possíveis compradores e empreendedores.
Na parte final a obra explora o cultivo do tabaco, uma outra grande produção do estado paraense nesse período. Dá muitos detalhes técnicos sobre essa produção, como a qualidade das plantas, da sua colheita, das doenças que poderia apresentar, etc.
A obra possuí um mapa incluso, que mostra as principais rotas das companhias de navegação que operavam no Pará para os principais destinos da época (América do Norte, Europa, restante do Brasil e Argentina).
Observa-se, portanto, que se trata de uma obra propagandística que procurava divulgar o Pará e as suas potencialidades econômicas na Exposição Universal de Turim. Tudo com a finalidade de atrair possíveis investimentos de governos estrangeiros ou de particulares nas suas produções, tais como a borracha, o cacau, tabaco, etc. Revela ainda que nesses grandes eventos de caráter internacional, o Pará estava marcando presença e declarando para todos saberem que estava se “integrando” no mundo do capital e da modernidade. Era o momento que trazia a esperança da continuidade da prosperidade econômica, através de novos horizontes de possibilidades.
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Bibliografia utilizada:
___________ Lo Stato del Pará (Brasile) a Torino – 1911. Torino: Tipografia – Litografia E, Denina & C., 1911.
____________Gli Stati Uniti del Brasile all’Esposizione Internazionale di Torino. Rivista 1911. Torino: Carlo Sartori, 1911.
Esposizione Internazionale delle industrie e del Lavoro, Torino 1911. Elenco delle Premiazioni agli Espositori. 19 ottobre 1911. Edito a cura della Presidenze Generale delle Giurie. Torino: Stab. di Arti Grafiche Ditta Fratelli Pozzo, 1911.
La Guida Tricolore rimborsabile di Torino e della Esposizione del 1911. Milano: F. de Rio, 1911.
Crédito das imagens dos postais:
https://italyworldsfairs.org/basic/AS/Brazil_Pav/Brazil_Pav
Copyright da University of California, San Diego.