Alam José da Silva LIma
Núcleo de Pesquisa
Em 1936 era lançada a obra “Traços Cabanos: 13 de maio (1836-1936)”, de autoria do desembargador Henrique Jorge Hurley (1882-1956).
A obra foi escrita para “comemorar” o 1º centenário de ocupação da cidade de Belém do Pará, pelas forças do general Soares de Andréa, no dia 13 de maio de 1836. Estamos tratando aqui de um importante momento da revolta da Cabanagem (1835-1840). Neste artigo, iremos analisar a citada obra em suas mais destacadas características.
Foi publicada pelas “Officinas Graphicas do Instituto Lauro Sodré” em Belém. Possui o total de duzentas e oitenta e quatro páginas, acrescida do índice ao final. Foi editada em formato de “brochura”, ou seja, não possui encadernação especial, etc. A capa do livro apresenta uma arte, que consiste de um desenho, que parece ser uma “alegoria” do tema da obra, assinada pelo desembargador Eladio Cruz Lima, amigo de Jorge Hurley.
Está dividida em 15 capítulos nomeados da seguinte forma: “Operações militares”, “Macapá”, “Gurupá”, “Vigia”, “Cabanos na Foz do Amazonas”, “Os cabanos no Amazonas”, “O matadouro dos cabanos”, “Romão da Graça”, “Escuna Clio”, “Escravos cabanos”, “Os cangaceiros das Águas – Jacob Patacho”, “A caminho da Pacificação”, “Correspondência cabana”, “Os cabanos de Barboza (Cametá)”, e “Notas Esparsas”.
A obra possui algumas ilustrações intercaladas ao longo da mesma. São alguns projetos para selos comemorativos sobre a Cabanagem, além de gravuras do general Francisco José de Sousa Soares de Andréa (1781-1858), do 3º presidente cabano Eduardo Francisco Nogueira Angelim (1814-1882) e do padre Prudêncio José das Mercês Tavares (1810-1861). Além das gravuras, estes personagens possuem poemas de autoria de Hurley destacando as suas proezas na Cabanagem.
O autor trabalhou, ao longo de sua narrativa, utilizando-se de diversas fontes documentais, existentes nos códices da Biblioteca e Arquivo Público do Pará. A obra foi construída, baseada no uso dessa documentação, para que Hurley pudesse compor os seus argumentos sobre os fatos ocorridos durante a revolta cabana.
O posicionamento de Hurley na obra “Traços Cabanos” parece, a todo o momento, pender para o lado “legalista” das forças imperiais, na sua luta contra os “rebeldes” cabanos. Tal situação fica patente pelo fato de que a obra “comemora” a tomada de Belém pelas forças imperiais, lideradas pelo general Andréa, principal liderança contrária aos cabanos e que seria o presidente da Província do Grão-Pará.
Percebe-se também, como na maior parte da obra, que o destaque está na figura do próprio general que será frequentemente citado e elogiado pelo autor. Em outras palavras, a obra analisa os fatos de acordo com a “visão” predominante dos anos 30, que era pouco favorável aos movimentos populares, contrários ao poder regencial, durante a menoridade do imperador D. Pedro II.
Jorge Hurley, que escreveu outra obra sobre a revolta intitulada “A Cabanagem” (1936), não conceitua nos seus “Traços” o que foi a revolta, nem diz o que queriam os rebeldes cabanos, etc. Ou seja, apresenta uma sequencia de informações e fatos que demandam do leitor o interesse e conhecimentos prévios sobre a revolta. O estilo da escrita é o dos tempos antigos, com a ortografia portuguesa bem datada.
Uma das características mais importantes dos “Traços Cabanos” de Hurley é apresentar ao leitor, um bom número de fontes documentais, de grande interesse para os estudiosos da Cabanagem, citando em alguns casos, os números dos códices correspondentes.
Enfim, a obra “Traços cabanos” já se tornou um clássico a respeito dos estudos sobre a Cabanagem, indispensável para quem quer conhecer informações sobre diversos eventos e personagens relacionados a esta revolta.
A obra se encontra na Biblioteca Pública Arthur Vianna, na seção de Obras Raras da FCP (Fundação Cultural do Pará), inteiramente digitalizada. Para acessar basta entrar no site www.fcp.pa.gov.br, entrar na página https://obrasraras.fcp.pa.gov.br/, e pesquisar pelo nome da obra ou buscar na seção livros.