Alam José da Silva Lima
Núcleo de Pesquisa da FCP
O autor João Lúcio de Azevedo nasceu em Portugal, na cidade de Sintra, em 16 de abril de 1855 e faleceu na mesma cidade em 1933. Foi um destacado historiador português que morou no Pará, escrevendo obras de interesse local. Foi um dos sócios fundadores do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico do Pará) em 1900. Morou na França durante alguns anos, voltando para Portugal, onde escreveu a maior parte de suas obras como“O Marquês de Pombal e sua época”, “Épocas de Portugal econômico” e “Os jesuítas no Grão-Pará”.
Os seus “Estudos de História Paraense”, que serão analisados aqui, foram escritos em 1893, sendo a primeira obra do autor sobre questões históricas a respeito da região amazônica. Na verdade, a obra é uma compilação de seus escritos, publicados em periódicos, transformados em livro. Este foi editado no Pará, pela Typographia de Tavares Cardoso & Cia. A obra, em brochura simples, possui 251 páginas, acrescida de mais duas páginas de índice. Não apresenta nenhuma gravura, fotografia ou mapa.
Foto 1. Página de rosto dos “Estudos de Historia Paraense” de João Lúcio de Azevedo, de 1893.
A obra está dividida em cinco partes ou capítulos. O autor no início de seu trabalho, na parte “Ao leitor”esclarece que o material fora publicado em partes na imprensa periódica, ou seja, em jornais de circulação da época, sem mencionar os seus nomes. Ressalta que, os temas abordados na mesma obra, foram pautados em “auctores insuspeitos” e baseados em “documentos authenticos” (originais), pesquisados por ele. A sua “pretensão” com o livro era de “estabelecer a verdade histórica de certos acontecimentos, em alguns pontos sujeita a controvérsia, em outros inteiramente ignorada”.
O estilo de escrita da obra é rebuscado, bastante típico do período do final do século XIX, época de produção desta obra. A ortografia leva em conta as regras do português utilizado naquele tempo. João Lúcio se utiliza de citações de vários autores ao longo de seu trabalho para apoiar as suas ideias, bem como de notas de rodapé, a fim de dar alguns esclarecimentos para o leitor.
O primeiro capítulo de sua obra é intitulado “A Companhia de Commercio do Gram-Pará e o Marquez de Pombal”. Aqui, Azevedo trata da criação desta companhia de comércio monopolista em 1755, que atuou no Estado do Grão-Pará e Maranhão, na segunda metade do século XVIII, analisando os aspectospositivos e seus aspectos negativos, até a sua extinção. Dá destaque para o governador do Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado (1701-1769), irmão do marquês de Pombal (1699-1782) que, apesar das muitas críticas que recebeu dos estudiosos e historiadores ao longo do tempo, foi um homem que possuiu muitos méritos, devidoàs suas ações no Estado do Pará.
No segundo capítulo, intitulado “Os Jesuitas expulsos”, o autor discorre acerca dos fatores que levaram à expulsão dos jesuítas do Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1759, e as consequências para a região amazônica. Tenta elucidar o que existe de real e fantasioso nos argumentos contrários aos religiosos, utilizados por seus inimigos para condená-los aos olhos dos moradores e autoridades coloniais e metropolitanas.
Foto 2. O capítulo sobre a expulsão dos jesuítas do Pará e Maranhão.
No terceiro capítulo, o “Appendice ás Memorias do Bispo do Pará”,Azevedo comenta sobre os escritos inéditos (na época) do quarto bispo do Pará, D. Frei João de São José de Queiroz (1760-1763). O material eram as “Memorias”, a “Viagem ao sertão” e a “Viagem de visita pastoral”. Esse material apresenta, segundo Azevedo, ricas informações sobre a capitania do Grão-Pará durante o século XVIII. O autor também trata da queda do bispo, caído em desgraça pelas intrigas políticas da época pombalina.
No capítulo IV, o autor dedica sua atenção para o piloto e navegador João Affonso, na sua “Noticia sobre o piloto João Affonso cognominado – o francez”. Este personagem histórico, da época das investidas francesas no Brasil e na região amazônica, teria um mistério relacionado com a sua naturalidade, se portuguesa ou francesa. Azevedo emite a sua opinião, baseada na documentação que apresenta, a respeito da verdadeira nacionalidade do personagem. E, mais importante ainda, analisa se este navegador foi o primeiro a navegar pelo rio Amazonas, bem antes de Francisco de Orelhana.
No quinto e último capítulo, intitulado “Os francezes no Amazonas”, Azevedo analisa os movimentos dos navegadores franceses na região amazônica. Questiona o autor as alegações de visitas na região por parte de alguns navegantes, e reforça o papel de Daniel de la Touche, senhor de Ravardière, o verdadeiro desbravador da região.Este foi o fundador de São Luís e desbravador do Grão-Pará, antes dos portugueses.
Após os capítulos,a obra apresenta as suas “Notas finaes”, relacionadas com o capítulo da companhia de comércio do Grão-Pará e Maranhão e sobre os franceses no Amazonas, com destaque para o senhor de Ravardière.
Foto 3. O índice da obra com o seu conteúdo.
A obra “Estudos de Historia Paraense” apresenta as primeiras investidas do autor João Lúcio de Azevedo, em temas de caráter histórico, publicadas em livro. A sua leitura revela os inícios promissores do autor na pesquisa de temas históricos relevantes, relacionados com a região amazônica, local onde viveu parte de sua vida. Alguns dos temas aqui abordados, tais como os jesuítas e os aspectos econômicos da colônia, seriam mais tarde aprofundados em obras que se tornariam verdadeiros clássicos.
Para quem quiser se aprofundar nesta publicação ou pesquisar mais da produção do autor, basta acessar o site da Fundação Cultural do Pará (FCP) http://fcp.pa.gov.br/, e entrar no acervo digital na página http://obrasraras.fcp.pa.gov.br/, na parte relativa às obras raras.