A “Procissão dos séculos” de Ernesto Cruz
Alam José da Silva Lima
Núcleo de Pesquisa
Em 1952, o célebre historiador paraense Ernesto Cruz (1898-1976), escrevia uma das suas mais conhecidas obras, intitulada “Procissão dos Séculos: vultos e episódios da História do Pará”.
Neste artigo, vamos comentar um pouco sobre esta importante obra e suas características principais. A mesma possuí 184 páginas, e está dividida em 75 artigos, de tamanhos variados. Apresenta muitos personagens, fatos e lugares históricos do nosso estado, ao longo do tempo. Como o próprio título sugere, o trabalho de Ernesto Cruz apresenta os fatos e personalidades históricas como participantes de uma “procissão”, desfilando diante dos olhos do leitor, o qual passa a visualizar os “ecos” de um passado há muito tempo esquecido pelas pessoas.
Os textos apresentados não seguem uma cronologia “linear”, ou seja, o autor apresenta os eventos históricos de maneira aleatória ao longo do trabalho, de acordo com o assunto tratado. Além disso, não existem gravuras ou imagens fotográficas, intercaladas na obra, acompanhando os textos.
Outra característica da obra reside no fato de que, apesar de na maioria dos seus artigos ou livros, Cruz não citar as fontes que utilizou, aqui temos, ao contrário, as citações dos códices que utilizou. Sabemos que vieram do acervo da Biblioteca e Arquivo Público do Pará (APEP). Ainda assim, nem todas possuem citações. Podemos compreender que, por se tratar de uma obra de divulgação, para um público de não especialistas, foram dispensadas as referências de algumas das fontes utilizadas.
Na breve introdução de seu livro, Cruz cita a coleção de manuscritos existentes no APEP, local onde coletou as informações para os artigos da presente obra, como já comentamos. A sua preocupação foi “destacar vultos e episódios”, que na sua visão pareciam “esquecidos” pela história local. Afirma ainda, que respeitou o texto dos documentos sem, em outras palavras, alterar nada do conteúdo que havia neles.
Após as suas breves palavras explicativas da obra, passamos ao “rol” dos personagens, fatos e lugares abordados pelo autor. Assim, somos apresentados à muitas personalidades históricas como em “Bento Maciel e os holandeses”, “O arquiteto Landi”, “A honestidade do cabano Angelim”, “O cabano Pedro Vinagre”, o inventor “Júlio Cesar”, a parteira “Mãe Valéria”, “O deputado Tito Franco”, entre outros. Não se trata de material biográfico, mas para destacar eventos, fatos curiosos ou desconhecidos, ocorridos com estes personagens.
Em outros artigos, são comentados algunseventos,considerados muito importantes para os paraenses, tais como em “A semana Santa” e o “Círio de Nossa Senhora de Nazaré”. Eram eventos que envolviam fortemente a cidade de Belém, seus habitantes e as autoridades em torno da fé e da devoção.
Cruz também trata dos momentos mais significativos da nossa História, tais como a Cabanagem em “Andréa e a cabanagem” e outros artigos, ea participação dos paraenses na conquista de Caiena em “A conquista de Caiena e o brigadeiro Manoel Marques”.
As construções históricas de Belém ou do estado,não poderiam deixar de serem contempladas na sua obra. Dessa forma, escreveu sobre “Os azulejos da Igreja de Santo Antônio”, sobre os “Solares de Belém, “Os monumentos da Vigia”, “A cadeia de São José”, “O Teatro Providência”, “O cemitério de Nossa Senhora da Soledade”, etc.
Comentou o autor, sobre os aspectos sociais do nosso estado ao longo dos séculos, como no artigo sobre “Escravos e Senhores”, “Associações emancipadoras”, “Padrinhos e afilhados”, e “Os degredados”, etc. Estes tratam do problema da escravidão no Pará; das ações abolicionistas e sobre os criminosos, que eram mandados para o estado cumprir suas penas, durante a época colonial.
Possui ainda artigos sobre as leis e os costumes de época em Belém, presentes em “O código de posturas e os costumes de Belém”, e “As leis e os hábitos do século XIX”. Nestes, temos informações sobre o código de posturas mais antigo de Belém e suas determinações sobre os usos e costumes do povo paraense no século XIX.
Alguns temas que, no passado geraram polêmica, são abordados, tal como em “A data certa da fundação de Belém”. Aqui Cruz comenta sobre o desacordo que havia desde Bernardo Pereira de Berredo, Robert Southey, Domingos Antônio Raiol, entre outros, que diziam que Belém fora fundada em 03 de dezembro de 1615.
Enfim, a obra consegue dar um panorama de temas muito interessantes da nossa história, chamando atenção para a riqueza de personagens e fatos decorridos ao longo dos séculos.
A obra “Procissão dos Séculos” faz parte do acervo da seção de Obras Raras da BPAV, podendo ser consultada on-line pelo site: http://obrasraras.fcp.pa.gov.br/