Luiza Amador ¹
Camila de Oliveira ²

Núcleo de Pesquisa

 

O artigo tem o objetivo de informar sobre a obra  Prophylaxia Rural no Estado do Pará, do médico Heraclides Cesar de Souza Araújo, que foi chefe desse serviço de saneamento. O livro foi publicado no ano de 1922 e reúne uma coletânea dos trabalhos de profilaxia realizados pelo doutor e sua equipe médica, a sua publicação ocorreu durante a comemoração do centenário da Independência do Brasil. O livro possui dezenove capítulos divididos em duas partes, essa obra é riquíssima em fotografias e faz parte do acervo digital de Obras Raras da Biblioteca pública Arthur Vianna.

O livro mostra como os governos estaduais da República efetivaram a missão do saneamento e sanitarismo nas suas cidades e em seus habitantes.

Na obra os leitores podem encontrar dados e métodos utilizados pelo governo estadual nos principais surtos de doenças – lepra e o paludismo- e como foram combatidas através de várias ações entre elas a criação do “Serviço de Saneamento e Prophylaxia Rural” e a inauguração de dois postos de saúde – Oswaldo cruz e Belisário Penna (as mais diversas autoridades estavam presentes na inauguração do posto Oswaldo Cruz).

O livro descreve como se deu a chegada das doenças, o ano e a profilaxia adotada para a contenção e a atuação dos hospitais de Belém como Santa Casa da Misericórdia, Hospital D. Luiz I, Hospital Domingos Freire, Ordem 3°de São Francisco e Hospício de Alienados. Neste mesmo capítulo encontram-se fotografias de todas as instituições citadas, assim como um apanhado histórico de cada uma, desde a sua fundação, informações a respeito do funcionamento, seus servidores e a especificidade do atendimento realizado.

Outro ponto importante da obra é sobre o sistema de coleta de lixo na cidade, escrito pelo Dr. João Pinto de Oliveira. Aqui é possível compreender como era feita a coleta do lixo, tanto no centro urbano como nas periferias da cidade, os horários da coleta e o destino destes resíduos para a “Uzina de Cremação”. Nesse local o lixo e animais mortos eram incinerados, por conseguinte o autor vai relatar como era o funcionamento e os detalhes de sua construção. O autor discorre, brevemente, ainda sobre o sistema de esgoto, as dificuldades de sua implantação e o sistema que afinal foi escolhido. Relata às condições que se encontrava o “Matadouro do Magury”, local de destino do gado advindo das ilhas do Marajó e outras regiões para ser abatido e tratado em Belém, desse matadouro se extraia alimento para o consumo da população, e também couro, graxa, cola e outros. Este capítulo também fala brevemente sobre alguns mercados de Belém: Mercado Municipal, Mercado de Ferro e Mercado de São Brás, o texto traz informações de seus funcionamentos, os artigos que eram vendidos nestes mercados, suas estruturas e como a sua limpeza era feita. Há muitas fotografias dos locais citados.

O sistema de esgoto da cidade também foi descrito na obra, seu planejamento e escolhas estruturais com objetivo de elevar a cidade de Belém ao patamar de uma cidade desenvolvida. A obra relata o início das construções durante o século XIX, descreve os sistemas de canais de esgotos que poderiam ser adotados e as particularidades físicas de Belém que impossibilitavam determinados sistemas, relata  todos os serviços realizados, os regulamentos e materiais necessários para a construção. Dentro da obra é possível encontrar a planta do sistema de esgoto de Belém do século XX.

Outra medida profilática do serviço de saneamento foi a análise das condições da água que era distribuída à população e buscavam verificar também sua qualidade.  Dentro de dois capítulos consecutivos, a obra apresenta o sistema de distribuição de água, as fontes e os resultados do estudo de qualidade. Têm-se as fotografias do ponto de captação do igarapé Catú, e o reservatório “Paes de Carvalho” que ficava localizado à  Rua Lauro Sodré.

O diretor do Instituto de Hygiene de Belém, Dr. Jayme Aben-Athar, descreveu o Instituto – em seu primeiro ano de funcionamento, desde sua forma física até o funcionamento interno da equipe. No início têm duas fotografias, uma da sala de secção de Bacteriologia e a sala do Gabinete Chefe. Ademais, o autor apresenta o movimento geral do Instituto, mostrando as análises que eram realizadas para detectar doenças, através do sangue, por exemplo. Na segunda parte, o autor relata um pouco das pesquisas feitas com relação à vacinação, mortalidade, e ainda apresenta tabelas para expor os resultados e a conclusão. Ao fim, encontra-se o regulamento do Instituto e a tabela de preços para os serviços que eram oferecidos, os quais consistiam na análise por meio de exames de possíveis doenças e a venda de vacinas.

 

No fim da primeira parte da obra se explica a questão do novo regulamento, que exigia a apresentação dos títulos dos profissionais da área de saúde, para que ninguém trabalhasse na ilegalidade, foram apresentadas as particularidades de cada profissão. Dentre essas, a que ganhou destaque foi a do profissional de odontologia, devido à Escola de Odontologia do Pará ainda não está no mesmo nível das outras escolas da área, não podendo expedir títulos aos seus alunos.

A “Polícia sanitária e fiscalização de gêneros alimentícios” é igualmente relatada, ela realizava inspeções para verificar se os estabelecimentos estavam de acordo, se os gêneros alimentícios estavam próprios para o consumo – nas idas ao mercado constataram diversos produtos em condições insalubres, nos portos não permitiam que fossem descarregados os produtos em péssimo estado. Têm-se a apresentação de tabelas para demonstrar os resultados das fiscalizações.

A segunda parte é denominada “Geographia Médica” e trata das questões de saneamento específicas das regiões visitadas pela comissão do serviço de “Saneamento e Prophylaxia Rural”. Inicia relatando as melhorias físicas que ocorreram em alguns bairros periféricos da cidade, de forma mais específica do bairro da Pedreira onde está localizado o posto “Belisário Penna”, oferece informações a respeito do bairro como o número de habitantes, tipos de moradias, condições físicas naturais e alimentação.

Em sequência, o Dr. Francisco da Silva Miranda descreve o posto “Oswaldo Cruz” no qual era o diretor, apresenta sua composição física, o setor da cidade que o posto atendia e algumas fotografias de pessoas doentes, uma com filariose nas pernas e  outra com bouba nas costas.

Há relatos dos serviços que foram realizados ao longo da Estrada de Ferro de Bragança, pois ao longo de sua extensão havia diversas pessoas com as mais variadas enfermidades. Narra as condições climáticas, físicas e financeiras, em que viviam as pessoas da região. Apresenta fotografias das moradias em Santa Izabel e de costumes do interior, como usar jangada e colher açaí. E a descrição do trajeto percorrido pela comissão e o resultado dos exames que realizaram para detectar doenças.

Em seguida, a publicação mostra a situação sanitária de alguns municípios do Estado: Mosqueiro, Santa Izabel, Bragança, Prainha e Chaves. É possível encontrar informações a respeito do saneamento, distribuição de água, as epidemias, descrição do posto de saúde que atua em cada município, seu funcionamento, os servidores e os serviços realizados.

Nos penúltimos capítulos escritos pelo Dr. Heraclides Souza Araujo, o médico vai analisar as cidades pelas quais passou a comissão, ele escreve detalhadamente sobre a sua visita em cada um destes lugares, suas interações com as populações e observações a respeito. As margens do rio Gurupy, onde fica o posto “Felipe Camarão”, o Dr. Souza Araújo fica hospedado e interage com indígenas dos grupos “Tembé” e “Tymbiras”, pois o posto se destinava à proteção dos indígenas, devido a esta convivência o Dr. Heraclides faz um breve relato sobre os costumes destes grupos.

Por fim, no capítulo final, o Sr. Martins e Silva, secretário do serviço de “Saneamento e Prophylaxia Rural”, apresenta as notas administrativas, os nomes dos funcionários, a organização e o quadro geral de funcionamento. E os últimos autores são o Farmacêutico Adarézer Coelho da Silva e o Administrador Carlos Horacio e Silva, que vão explicar a movimentação da “Pharmácia” e da contabilidade, respectivamente.

 

[1] Historiadora da Biblioteca Arthur Vianna.
[2] Estagiária de História da  Biblioteca Arthur Vianna.