A Provincia do Pará de 29 de junho de 1947

bomJngc,, ~ ae Junlio de 1947 ' ' nco · :,aZa.va,-s~ 41 einema 'braafleiro e alguem ao lado perg11,ntou : --A propósito, como vat a ftzmagem da "Inconftdencia Mt1ieira"? .4. curiosidade e:ra justa, pqrque esta é a única obra de vulto que preocupava no momento os nossos circulos cinematograficos achando alguns que a idéia de realizá-la foi temerária, e outros que Ítzmes as– sir.; é que deviam sempre ser feitos aqui. Por isso mesmo foi levantada. entre os que discutiam a iniciativa de Carmen ~antos, uma questão palpitante de .irdem artistica : - Um filme como a "Inconfidência Mineira" já pode ser produ– R!ido no Brasil ? Quais as maiores dificuldades para a sua reali;::ação ? Serão as materiais ou as intelectuais? O argumento da "lnconfidencia" foi escrito, como se sabe por• Brasil Gerson dentro de um critério absolutamente moderno. <::reio 1ll:esmo.que ele_ é, no seu genero, uma novidade, por ser, mais que a bzografut de Tiradentes e outros homens, a biografia - pode dizer-se - de u:n,a idéia revolucionarta, de um estado de espirito coletivo num determinado setor do tempo e do espaço. A conspiração de 1789 não chegou a ie concretizar, de modo palpável na vida exterior. Fot mais uma intensão que uma realidade. E da( as suas qualidades negati– vas r;ara o cinema, que precisa, para viver, de histórias vivas con– cretas, e": movimento. Na "lnconfidencia Mineira" tudo são episó– '1,o · de~l.igado_s e que ac9nteceram em períodos muito espaçados. De positivo cmematografavel, segundo os processos costumeiros do ctnema, só há duas coisas essenciais: Barbara Heliodora querendu eritar que o marido, Alvarenga Peixoto denunciasse os companhei– ros e a altivez e a resignação de Tiradéntes nos quase três anos em que viveu nos calabouços, torturado mela justiça da corte. O autor do argumento, procurando um caminho novo, a exem– plo du que fês Ludwig ao contar a vida dos grandes homens, deu à c~mspzração, em sz mesma, :s honras de verdadeiro protagonista do filme. O argumento é, port1.. ,t r a história, narrada e comentada por palavras e imagens, da marcha de uma conspiração, partindo da si;:. preparação . ideológica, com as primeiras sementes da rebeldia plantadas no terreno já adequado para isso, passando pela chegada, à intimidade dos conspiradores, daqueles que os delatariam para chegar afinal à prisão e ao julgamento dos cabeças. Possuindo esse alto valor intelectual, o filme não nos mostrará pois, a "lnconfidencia" como uma simples manifestação de histe~ ris= patriótico, de alguns sonhadores mineiros, separados da vida e do mundo. Pelo contrár io: ele nos diz que a tentativa de Vila Rica esta1:a enquadrada dentro do mesmo espírito revolucionário bur– guês do século dezoito. que fundou a democrra,cia norte-americana em 1776 c criou nc França, em 1789, uma nova ordem social, destruindo CJs velhos privilegios seculares da ;ealew e da nobreza. Tiradentes e seus companheiros (sobretudo José Alvares Macie:) 11.ác queriam apenas tibcrtat o Br asil da corôa portuguesa. Queriam 1:m rouco mais : queriam fazer do Brasil uma grande república, l prospera e rica, que criasse, aqui, suas indústrias, suas "fábricas de ferro" e logo se colocasse na vanguarda das maiores nações euro– péias. El~s conheciam a literatura revolucionária da época. Adam Smith, o pae do liberalismo economico, fator do grande desenvolvi– mento do mundo sob o regime atual, tinha sido tradu;eido por Clau– d.io Manuel da Costa e a tradução foi incluída no processo dos tncon– fidentes como subversiva .•. Tiradentes sabia de cór a proclamação dg 1ndependencia norte-americana, votada pela convenção de Phila– delfia. E em Nimes, na França, o estudante pobre José Joaquim da J~laia, um carioca, propunha a Jefferson um acôrdo . com os Estados Unidos, vendendo-nos a jovem república 1<1,avios e armas, emprestan. cio-no8 "mestres de fábricas" e dando-lhes nos em troca, ouro e dia· mantes ••• -- Mas onde os recursos para reconstituir tudo isso ? - per– guntará muita gente, alegando que @s filmes históricos americanos, co= os de Cectl B. de Mille, exigem montagens que aqui seriam impossíveis. E sem essas montagens a "lnconfidencia" apareceria rlescclorida, dando uma impressão desastrosa, de opera em Teatro bt.zrato... , A alegaçdo seria justa si se tratasse, no caso, de um argumento e~critc num estilo vulgar, apenas para falar aos olhos do espectador. F. então ele teria que lançar má.o da técnica de De M eüle, logicamen– te, para que aparecesse na tela tudo o que compunha a vida brasi– leira desse final do século deieoito. E dez mil contos, num pais onde um filme não dá nunca uma renda bruta de 5.000, seriam insufi• cientes para tantas montagens espectaculares . •. 1',fas Carmen Santos, presidente da Brasil Vita Filme, encarou a questão pelo seu prisma verdadeiro, e à sua inteí,gencta, ao seu bom gosto deve-se a ótima orientação tomada na filmagem. O mesmo critério que presidiu à feitura do argu11umto prevalece na sua reali– zaçãa, e o lado interior da "lnconfidencia", o drama vivido pelos in– confidentes, suas idéias, seu altruismo, a sua ansia de libertação, os ceus sonhos de um Brasil melhor é que predominarão no grande espetáculo de arte produieido no studio da Tijuca. Nada de monta• gens que confundam a "Inconfidência" com emplastos cenografi· cos. Apenas. o essencial, e rigorosamente certo. para ambientar e si– tuar a tragédia de Vila Rica dentro da sua época, e quanto a isto não há perigo. A mesma orientação predomina na confecção dos figurinos. Agora trata-se do principal : de criar, para o filme, o que ainda não existe nem nos arquivos e nos museus - a inconografta desses admiráveis primeiros revolucionários da América do Sul. E mais ainda : de transplantar para o filme, com justeza, a maneira ãe ser, de falar, a expressão, a tnquietação ideológica e patriótica dos 'brasüetros daquele tempo. Isso é uma tarefa intelectual e Carmen Santos, que a coordena, talvez surpreenda o público com uma obra - - . . .,, -··--:it-- --· - .. - A PROV!NCIA DO PAR A G Ia Mineira'' no e OLGA LATOUR ESTREOU NO CINEMA EM "ESTE MUNDO E' 1;n: IANDEIRO", MAS EIS AQUI COMO O DIRETOR DE "Lll\1h.R" PENSARIA EM TR.\NSFORMA'-LA PARA O PAPEL DE "ClNf'O ALMAS" ------ e CO ALMAS ou T "Limite" ficou terminado em !Integral como por exemplo, a Peixoto. Ele deveria. escrever o 1930. Cinema silencioso com uma destas borracheiras de cenário e seria. o diretor. Ain– uma unica legenda, mas intei- Cecil B. de Mille ou ao diver- da me lembro de alguns deta– ramente sincronizado por um tido e agradavel "Escola de lhes. Mario começava. assim o acompanhamento musical es- Sereias ... ". t filme: Pela estrada vinha o pecialmente colhido para o fil- Mas não foi isto que desa- ruido característico do carro me, o melhor que já fora iei- nimou Mario Peixoto. Ele rea- de boi, até que a roda entrava to até então, se o maestro Gaó lirwu o filme por curiosidade, no foco da maquina, em pri– não tivesse selecionado e tam- pouco se interessando que des- melro plano, e ia se afastando, bem colaborado na partitura se renda ou não ."Limite" foi deixando um sulco na terra. musical de "Barro Humano", feito para satisfação pessoal e A câmera seguia o sulco e a– cuja estréia em São Paulo daqueles que, verdadeiramente companhava um córrego até marcou um acontecimento até cineastas, queriam antes de as mãos de uma lavadeira er– então inédito no vaida adan mais nada saber que lugar guendo as roupinhas de um re– c.ntão inédito na vida cinema- ocuparia o nosso cinema, não cem-nascido que ela estendia tográfica do país. como indústria, mas como ar- na corda. Fusão da mão 'l'.'eti– te, no conceito mundial do ci- rando a roupa sêca, e marca– nema. E pode-se dizer que, da como um vaticinio, o sinal neste ponto, Mario Peixoto da corda. Era esta a apresen– Yenceu, porque "Limite" é des- tação de Tiradentes. "Limite", o maior filme que já realizamos até hoje. Cine– ma puro, totalmente arte, ob– jetivo, sem a mais leve conces– são à bilheteria. Por isso nun– ca foi exibido para o público, que se acostumou através dos filmes norte-americanos, a _ir tes poucos filmes, que poâ~m No final, 'ele idealilzara. Tira– ser citados ao lado de "Faus~ dentes subindo para o fôrca. to", "Lirio Partido", "Caligari", Depois a câmera descia do al– '·Caminhos da vida", e seu rea- çapão que se abria para o 11-7.,:uinr r.it.atio r.omo asbst. chão e via-se então o salga- Rui Galvão deverá cuidar do ja nos seus estudios? Então som e provavelmente Rui San- Maria talvoo mude a história, tos terá o trabalho de câme- alterando o tipo de mulher da ra. Mas para chegar a esta es- cidade, e entre tantas candi– colha de artistas e de técnicos, o:atas que têm testes fotográ– quanto trabalha Ma.rio Peixo- ficas, talvez surja uma n,Jva to quando para realizai- 11m estrela, entre elas quantas po– filme escreve a história para deriam figurar encabeçar:do um tipo que ele criou e daí a· elencos de filmes, pois muitas dificuldade de encontra-lo na são as provas que vimos e não vida real. E se a Atlântida não menores são as chances que consentir que Olga Latour tra- encontramos em tantas candi– balhe noutro filme que não se- datas. BU'? E' preciso que ele quebre de ,.,e::z o fatalismo que o perse– gue. . . "Cinco Almas", "Onde ;, Terra Acaba" ou Tabú ? OMALANDRO E A GRANFINA Calmamente o cinema brasi– leiro ·atravessa uma fase t::X– cepcional em vista da grande aceitação por parte do públi– cc- pelos filmes nacionais. O movimento é tão próprio <tue 2,caba de surgir no cenário ci– nematográfico brasileiro mais alguns produtores, que se dis– põem a produzir celuloides sem quebra de continuidade, tendo já traçado um plano de produção para o ano inteiro. São eles Claudio Luiz e Araujo li'ilhn

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