Revista do Ensino - v.1, n.6, 15 fev 1912
• REVISTA DO ENSINO 399 et leg?'e evocou plasticamente aspectos visuaes, sombras de ar– vores múrmur as, adágios tristíssimos d'águas soluçando. . . Como téchnica João Nunes é um concertista em des ta– que no meio l.Jrasileiro; e como comprehonsão das obras que interpreta elle se affirma como uma intelligéncia lúcida, duma clareza de intendimento pouco em voga entre os nossos ar– t istas.- E' essa qualidade intellectual que lhe marca o traço vivo duma personalidade esth ética inconfundivel, que lho cor– t ando certos arroubos elo sentimento, empresta a sua ar te est::i– dos conscientes seductores p ela serena tranquillidade 'de sua força como emoção h umana e representação artistica da ú a– tureza. FROG-RA~~A 1, Chopin ,- So1rnra , op. 3.3. ! - Grave, Doppio movinwnto; ·n-sc11erzo; III- Marc11e fu nélJre; IV-finale. Das quatro sonatas qu~ escreveu Ch<rpin (3 para piano), a em si bemol menor é sem dúvida a que encerra maior somma J e bellezas. Composta após o attaque de grave enfermidade que o nnniquil ou, ella rcflecte o estado duma alma que se sento velad a a toda !Jora pelo prestígio sobrenatural du morte. Primeiramente Chopin compusera a Marcha fúnebre, que é familiar em toda a parte, e que fórma na sua perfeição de · fa ctura, uma obra HCabada, e independente. Esta terceira parte suggestionou natura lmente ao grande artista a idéa de escrever o Poema da Morte. Abre a sonata um alleg,·o agitado, em que o espanto se caracteriza numa linsia inquieta, vertig inosa ante a imagem do pr n to final da viagem terrena. Como o desdobramento nnú– logo, uma sequencia lógica do pavor, o segundo canto do poe– ma, o scherzo, evoca o perfil cabalístico ela morte rondando um festival noctu rno, a alacre vividez dum baile, em que os convivas se desprendem dns alegrias voluptuosas : paira no ambiente o prcsentimento fat!dico das coisas irrevogaveis, da fatalidade divina dos destinos. A marcha fúnebr e, lamentosa, plangente, aberta num chof'.l de soluços dos vencidos, é o dobre fina l das agonias supre– mas, o bymno do anniquilamen to, a glorificação da Morte. Que differença de expresBão musical, e de effeitos emotivos entre esta página e a de Beethoven (sonata em lá bemol, op. 12)- ma,·cia fúnebre sulla morte dun eroe ! A de Beethoven tem uma amplitude formidavel, heróica, friumpbal, é a orchestrn– ção elo juizo final. A marcha elo Chopin é resignada e múr– mura, ãum pathético virgina l, quasi angélico, como um repou– so das iilusões. A' IV parte- final-tem-se dado vária interpre– tação . Alguns a julgaram de começo coisa inintelligivel, 80111
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