Revista do Ensino - v.1, n.6, 15 fev 1912

398 REVISTA DO ENSINO )íótulas d'Arte CONCERTO JOÃO N~ Comprehendendo a cultura esthét~ca como o mais alto grau da educação, a Revista cio !~:-:sino não poderia deixar d_e fazer commentário ao concerto que, no theatro da Paz, r eali– zou o pianista João Nunes. As festas d'arte, entre nós, escaceiam por fórma a nos fazerem ·esquecêr a existéncia de certas modalidades da arte. Raramente se nos offerece, portanto, o ensejo feliz duma audi- ção musical. o programma tlo concertista deixava logo vêr, para quem não o conhecesse, um espírito educado no grande am– biente dos mestres, e capaz, de conseguin te , de traduzir as mais delicadas expressões, tecer os mais complicados arabes– cos, attento as difficuldade moraes e téchnicas que os números representavam. Para darmos uma idéia de synthese sobre o valôr do pianista, diremos que suas qualidades dominantes são a cla– reza, a exactidão subtil, a par duma commovida ser enidade. Do programma que o pianista com mestria executou des– tacaremos a Sonata, de Chopin, e a Rhapsódia húngant, de Liszt, como obra larga de inspiração, de factura complexa, e ás quaes João Nunes; com seu brilho sóbrio, i;;eu sentimento penetrante, emprestou uma unidade de poema, dum traço fir – me e acabado f!-O contor no musical. Ainda de Chopin foi uma delícia o scherzo, op. 31, e a valsa nº _3. Um verdadeiro aconteci~ento como effeitos ryth– micos, foi a Sonatct em, la de Scarl at1. Toda a sciéncia manual do pianista se exhibiu numa prova fr emente, duma riqueza de digitação admiravel. Para nosso gosto particular a attracção vehemente do programma eram os numeros que se assignalavam pelo nome de Claudio De~ussy. E tanto no Ja1·dim á chuva como na Ilha ,·idente, l oao Nunes nos de~ a gr ande emoção da arte aristo– crática e bizarra do symbohsta francês. Principalmente a Ilha

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