Revista do Ensino - v.1, n.6, 15 fev 1912
REVIS'rA DO ENSINO 397 que as ensin asse, e doutrinasse ; porque o ensinar, e doutri– nar h ;ivia de faz er nell as os mesmos effeito s, que· o matar, e o comer. Ouvi a São Gt'egór io P apa . Quer endo Deos que São Pedr o ensinasse a Fé àquelles Gen tios, diz-lhe q ue os mate, e que os coma; porque o que se mata, deixa de ser o que he; e o q ue se come, converte-se na subs tância, e nos membros de quem o come . E ambos es tes effeitos h avia de obrar a doutrina de São Pedro naquelles Gentios feros , e bárbaros. Pr imeir o havião de morrer , porque h avião de deixar de ser Gentios, e logo havião de ser comidos , e convertidos em mem– bros de São P edro, porque havi~o de ficar 0hris tãos, e mem– bros da I g rej a, de que São Pedro he a cabeça. De maneir a, que assim como a n atureza faz de feras homens , matando, e comendo, assim tambem a g raça faz de feras homens, doutri– n ando, e ensinando . Ensinastes o Gentio bárbar o, e rude; e que cui dais que faz aquell a dou trina ? Ma ta nelle a ferez a , e introduz a humanidade ; mata a ignorância, e in troduz o co– nhecimento; mata a br uteza, e introduz a r azão; mata a infi– delidade, e intr oduz a F é : e des te modo por huma conve,;são admirave l o que era fe ra, fi ca homem, o que er a Gentio, fica Christão; o que era de:;pojo do peccúdo, fica membro de 0 hr isto, e de São PAdro : Ocd de, e rnanditea. E como a graça do E s– p írito Santo por meyo da doutrin a da Fé, melhor que a arte, e melhor que a natur eza, de pedras, e de animaes sabe faz er homens; ainda que os des tas conquis tas fossem verdadeira– mente, ou tão ir r acionaes como os brutos, ou tão insensíveis como as ped r as, nam era bastante difficuldade esta, nem para disculpar o descui do, nem para tirar a obrigação de· os ensi - nar. (1) NOTA :- Paro que o leitor possa com~ara r as variações que ba soffriclo 3 escrita portu– gulisa, mantemos inalteravel a orthogra pbtn d~ autor. Apenas referiremos que a expressão ba 1 ttismo era usada parallelnmente com a hoi e em voga-baptümo. E' formi. nrcháica que vem desde O século XV, como se vê da ~~tórla de ~espa.'lian-0 (J. L. VASCONCELLos,- Textos Archáicos, pg . 49.). Vid. DLUTllAU, Vo:ábitla,_-w, vol. II~ r ambcm LANÇOL é modo do portug uês antigo. DLUTEAU (vol. 5. ) não 111enc1oun ainda o vocabulo moderno lençol. E VITllRBO no seu E lucidàrio (vol. II), inserindo as duns vad_:1ntes, observa, differeuçando d'aquella pala vra 0 simples toalba do alta r : "As toa_lhas não sao peças de ornato, mas de necessária preparàQão do altar : donde se vê serem cortinas, que naquelle bom tempo ordinariamente eram de linho". fl ] SERMOENS, vol. III. pgs. 418-423, ed, de 1633.
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