Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912

REVISTA DO ENSINO 285 DYONISIA. E que alegria em tudo! Quando o mar g em e, é um canto tão bello que esquecemos ser uma lamentação . .. E eu m e rio das desg r aças do mar. S e um pássaro canta lú– gubre á noite, nós g osamos do som puro e da clara melodia que nos enchem os ouvidos . Eu só vejo a belle 1a e não a dôr ! S6 ha alegria na vida. Perseverante no invite á Cytheréa : V em . .. Vamos . .. Eu t e cantarei os cantos do mar . Tudo é um. só e inextinguzvel canto: mar , v ento, aves, plan– tas, e nos búsios da praia, tu ouvirás ainda a minha vo 1 . Não é o canto das ág uas, é o m rt u canto: g u ardado para os que amo, o canto que te e::.pera, canto de saudade e de amor . . . São as vo1es dos m eus profundos desejos. E de novo murmúra; e de novo súppli ce no desejo : Eu qutsera desapparecer na tua natu.rer_a como a lu 1 desapparece nas trevas poderosas. Tu carregas o fardo do passado e o espanto do futuro ... Só Mala 1arte é extra– nho ao tempo ... é o espelho do universo, sempre eterno, sempre vário . ·. . Nesta revoada das grandes idéas, das fundas energias, o poema se dilata e expande em suas affinidades de podêr evocadôr,-com a elevação moral de Malazarte e desdobra– mento psychico de Dyonísia-como obra pro~undamente dra– mática, embora sem longo êxito scênico . Desenhado porem o arcaboiço do drama, na architectura das peças-mestras, e ·vendo-a com intenç.ão coordenante de sym– bolos e allegorias-assignalo a certeza duma concepção bilateral. E assim, o jogo de estados theatraes oppostos lhe quebra a uniformidade trágica, bifurcando em latitudes de vida sensi. vel a sua acção dramática por fórma a nos inquietar, impacien– tando-nos, e rasgando, nessa deslocação de forças emotivas, 0 senso ele nossa comprehensão moral e o translúcido véu que nos velava o êxtase pathético, que é o ambiente fecundo para o florescimento das commoções artísticas. O mêio em que se expandem Malazarte e Dyonísia é

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