Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912
REVISTA DO ENSINO 321 ~r-_se e acab_arn formando ~m vasto lençol de phosphorescéncia azulada, palhda e vac11Jaute, no seio do qual se pode ainda distin o-uir de quando em quanclo, p equenos sóes. deslumbran tes que conservam todo o seu brilho. Quando o ~ar está muito ag itado parece que as ondas se abraçam. El evam-se, rolam, fe rvilham e quebram- se ~m flocos de _espuma que brilham e desap• parecem como ~agulhas de urna _1mmensa fogeira. E quando arrebentam nos rochedos marg rnaes, as ondas cmgem- nos de uma or1a luminosa: o menor dos recifes tem o seu círculo de fo g·o ( Qwitrefages). ada é mais o-racioso então que um bando de golfin hos brineando nessas noites e battendo, di vidindo' espalhando, pul verizando essa onda maravilhosa (Humboldt). A cad,t moment~ surgem do Oceano jactos de luz: ora_fracos, pouco moveis e quas i con tíguos; ora r~splendentes, vag·abundos e dispersos como uma semen teira de pérolas cambiantes. Quando um vapor fende as ondas, empurra á sua frente duas vagas de phósphoro líquido; e ao mesmo tempo tra.cej a, atraz de sua pôpa um longo sulco de fog o que se apaga lentamente como a cauda de um comêta. Que bello assunto para os estudos dos sábios e que admirável fonte de inspi– rações para os poetas l> Con trariamen te ao que parece indicar o seu nome, não se deve o phenó– meno da phosphorescéncia á presença do phósphoro; mas sim a dum pequenís– simo animal que pullul a nas águas do mar, o Noctiluco miliar. E este facto é conhecido de longos annos. Assim é que Houton de Labillardiére já contava os seguintes fac tos, em 1791: Havia eu guardado, di z ell e, garrafas d'água do mar, cheias na véspera, duran te o seu período de phosphorescéncia, afim de examinar esses pequenos corpos luminosos que são a causa do phenómeno. Essa água, derramada num copo, foi saculej ada na obscuridade. Vi subita– men te, surg irem g lóbulos luminosos que em nada se differenciavam dos que de ordinario são observados quando o mar está agitado. Filtrei-a cuidado– samente: pequenos molluscos, mui to gelati nosos, transparentes, de fórma glo– bulosa, e cuja di mensão era no máximo de um terço de millímetro, ficaram no • papel-filtro, e para log o essa água do mar perdeu toda a sua phosphores– . céncia: novamente lh 'á restit uí mergulhando outra vez os pequenos mollus– cos. E sob pena delles perderém todas as suas propriedades phosphóricas, não se os devia dei.~ar por muito tempa fóra dágua. Repeti por muitas vezes a mesma experiéncia em parage_ns a f~stadíssimas umas ~as outras, e encon~rei constan temente os mesmos ammalz1tos, que eu considero como causa,.: da phosphoroscéncia das águas do mar. > O Noctíluco, não é um moJlusco. E ' um organismo muito mais sim– ples, formado essencialmente de uma pequena bola transparente, gelatinosa, muni da de um prolou ga1:11en to cum~rido e ~ ovel, cha~ ado f!af!ellum. Os Noctí1ucos não são visí veis a olho nu, mas somente ao mrnroscop10, sendo o seu diámetro pequeníssimo. E ' no meio dessa !Jl{l,SSa P·elatinosa que se pro– duz a luz, que não apparece se~ão quando o liquido onde os Noctílucos na~am, está ag itado. E sses o~g_amsmos, ~ollocados num vaso e num l~gar mUJ calmo, não mostram v~st1g 10s de cl~nd_ade;_ ma~ se acontecer ag1tar– sc o vaso, ver-se- á immcdrntamente o liquido 1llummar-se, para apagar-se em seguida pouco a pouco. . . . Os Noctilucos uão ~ão os u111c~s organ1sm~s que produzem a phos– phorescéncia do mar, mmtas vezes e ella produzida ao mesmo tempo por um micróbio, o B acillo p hosphorescente. Raramen te, mas tambem acontece ser a phosphorescévcia devida a me– dusas , e a té a vermes. (Trad.) OCTÃVIO GRAÇA
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