Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912
284 REVISTA DO ENSINO Com áspero relevo, duma significação a~l~cinadora, des. taca-se do drama a imagem fascinante de Dyonisia, que por s~a extranha e perturbante psychologia de sirena incantada; valena, por si só, ~m poema aparte. . . . Da obra dramática é a figura mais bem dotada de quali– dades inexgottaveis de emoção, vibrando entôrn? ao seu vulto a ronda mágica e lunar dos elfos fascinadores. E a que der:a– ma no decorrer dos episódios, em mais alto grau, crescente m– tensidade na irradiação espritual, polarisando noss 'alma para os grandes estados da visão ·plástica. Seu corpo se projecta em sombras successivas. Aquella indentificação com o mar na perpetuídade suc– cessiva de suas ondas, lhe empresta uma acção trágica, um murmúrio vasto, sem horizontes, uma vida profunda e inde– terminada, múltipla e indivisa como se ella fôra urna encarnação super-orgánica, o elo biológico e ao mesmo tempo a synthese psychica da evolução das fórmas mais simples da vida sensivel, que germinaram nas entranhas parthenogenésicas das á,guqs. Se– reia de attrações allucinantes, Aphrodite geratriz da vida, chamma eterna do movimento genesíaco, origem oceánica dos germens, Fons Vitae- Dyonisia ! symbolo trágico e immortal da cria– ção pairando já no intangivel céu de espiritualidade . . . Tudo se fecunda e multiplica á tua delirante fome de germinação: os sentimentos se aniquilam á tua vontade soberana de omnigera– ção, pois que és a cinestbesia suprema.da viela, a próp'i-ia viela, instincto tyránnico e sideral do prazer! E uma idêntica corrente de sympathia moral se estabelece entre a criação e a sensibilidade do criadôr, que O desenho psy– chogrâphico da personagem desperta as mais bellas imagens verbaes de sua obra. . A linguagem, até então serena e límpida, duma casta pul· chntude, _se neblina em crepúsculos de volúpia á appariç,ão ana– d1omén1ca da mulher-symbolo, e o estylo se lhe mostra persegui· do por um rythmo accelerado que se desarticula na instantanei– dade de brilhos fugidios, brunindo-se de tons largos, abertos em pnmaveras, duma monochromia impressionante pela nitidez com que representa, no atormentado das palavras a 1 uga indo- mavel das idéas. '
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