Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912
REVISTA DO ENSINO 319 T iradas, porem, directamente do latim como é a opinião gei·almente acceita ( 5 ) nenhum mo tivo ha para o seu truncamen to , pois, como todas as palavras de formação erudita, se devem conservar intactas no seu thema softrendo sómente adaptação na ultima syllaba, que, sendo nasal, deve, d~ accordo com a convenção geralmente adoptoda, graphar- se com m . E assim temos regimem, tentàmem, etc. Em face desta insophism.avel lição dos factos, como suster de pé a pre– conizada, suppressão da nasalidade final de regímen, tentamen·, etc. ? Dizer- se, como aliás o tem feito o douto auctor do Nôvo Diccioná1-io da L íngua Po1·tuguêsa, que ass im como se pronuncia e edcreve crime, nome, se deve dizer e graphar, regime, tentame, é uma semrazão. Como todo mundo sabe inconcussamente, crime e nome são vocabulos de formação popular, e _por isto sujeitos ás deformações que lhes imprimiram as vicissitudes experimentadas mi sua pereg rinação quas i duas vezes mille– naria, do plebeiu.s sermo dos invasores r omanos á fixação da língua por tu- gueza, nos seculos XV e XVI. . Nesta aventuxos.a odysséa, atacada pela mesma tendencia destruidora que supprimiu a nasalidade. flexional, ~aracteristica do accusativo, desappa– receu do vocabulo a nasalidade termmal do thema. Tal confusão, natural no povo ignorante, não sería absolutamente possível nos nossos classicos, adap tadores das questionadas formas em men, e tão sabedores do latim que, desde Camões a Castilho, versej avam na pomposa lingua dos quirites com a mesma facilidade com que o faziam na sua propria. Até aqui os argumentos induzidos dentro dos limites da fo rmação do portuguez. Se quizermos ampliar a discussão, elucidando.!.a com uma vista compa– rativa ao hespanhol e ao francez, lá como aqui, se nos depara precisamente a mesma duplicidade. Numas formas a nasalidade final do thema desappa– receu e noutras foi conservada. No hespanhol, ora a terminação alterou- se completamante, como em Zurnbre e nombre, ora manteve a nasalidade, como cm régimen ex amen. No francez, a par das formas atrophi adas, como c1·ime, nom, régime, coe– xistem as formas integras, como examen e abdomen. (ti) E ní1o me consta que alguem, por amor á simplificação e á coherencia, tenha proposto substituil-as por exa~i~ abdome,_ o que dada a disparidade de pronuncia do e _e enfinaes naquelle 1d1oma, ten a por certo bem poucas proba– bilidades de ex1to. P ara fe ixar esta contestação basta lembrar que, se em respeito á «pho- netica geral e popular, fossemos levados a pronunciar e escrever regime e abdome, sel-o-iamos log icamente a dizer e a g raphar nuve, 01·ige, que é como pronunci~ a p~vo. _ . . Disto, porem, mnguem se lembrou amda, e pra:i:a aos manes de Vien·a 6 Herculano que tal_ desgarro~nãQ occorra a ~m nov!dadeiro qualquer. Correr-se-ia o risco de ver a extravagancia acceita e perpetrada. o nosso povo é tão ami go de innovações que lhe contemporizem com o desleixo . . . 6) Cnndido de Figueiredo-Nôvo Diccionário da Língua Por tuguêsa- Conversação preli• minar pagina XXIV. G) 0 escreverem os hispanhoes e franceses com n as palavras em men, não é argumento contra a graphia que proponho. Nnquellas l!nguaa, ao contrario do portuguez, a nasalidapo final é sempre representado por n. Graphando n em a-0domen, elles síio congruentes, como nós 0 seiulmos, 60 o fizessemos com -m. .,.
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