Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912

282 REVISTA DO ENSINO d'arte, em realiçl.ade, elles se completam, differenciando-se ape– nas 110 gráu de intensidade, sendo que , em certas naturezas e segundo o gênero literário preferido , ha predomináncia de um, ou de outro O início mysterioso da concepção, a aurora genesíaca da idéa continuam a ser phenó!:lenos aínda pouco expostos á cu– riosidade scientífica, jazendo, como as próprias forças da ma– téria, no recato inviolável da Natureza. Tal·1ez uma successão de energias vibratórias, ao choque multifórme das imagens, das suggestões parciaes do Universo, possa determinar uai prolongamento de sensações emotivas até á incidência num ponto único. E na névoa cerebral em que tudo auxilia a apparição criadora, sem que nada a determine, mas na qual a vida prestes a nascer se agita na bruma-reside, de certo, a origem dessa attítude mental. Nos inspirados, ha verdadeiramente a allucinação coorde- · nadora das imagens: e é por uma espé<:ie de milagre da pro– ducção que a obra se architecta e desi nvolve, se ornamenta e homoge niza, arroubada e vibrante, cheia de estremecimentos profundos, nascidos de um ser desconhecido de nossa consci– éncia, que nos cornmove como uma rev~lação de nós-mesmos. E' o acto inconsciente do pensamento; producto de uma série de estados similares da nossa sensibilidade, que nos surpre– liende pela sua explosão liberta do acto volitivo. P ara outros, então, é um esfo rço angustioso, uma tortura inquisitorial de todos os momentos, ora se abysmando na noite álgida dos desalentos, ora resurgindo á nova luz que desponta, -victimas que se opprimem e exhaurem em plena consciéncia, á lucidez racional da criação. E' a insr iração scenográphica de Victor Hugo ou o supplício sobrehumano e lapidar de Gustavo Flaubert. Estes conceitos me chamaram .a attenção, á leitura de Mala:;_arte. 1 Sem conhecer, de intimidade, o Sr. Graça Aranha, vejo, no entanto, através da teci tura singela de sua frase, na ordenação regular dos períodos, no lavôr methódico das idéas, que o seu processo artístico se filia á segunda categoria das duas ana- lysadas.

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