Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912

I 294 REVISTA DO ENSINO sicos ha, porem, escritores raros, ar tistas pr imazes, que fizeram da xpressão verbal um poderoso instrumento de emotividade e de idéas. . . Acontece, no entanto, que pela raridade das edições e falta duma b1bli– othéca clássica escolhida (o que annos ha iniciou em Coimbra o sr. Mendes dos Remédios), tanto o professor como o leitor commum e até mesmo o ra– pazelho aliteratado,-desconhecem a bierarchia esthética dos escritores Por– tugueses. Tirante Camões, sobre o qual j á não ha controvérsia possível (e de quem todos falam e raríssimos lhe deletream as obras) todos os demais clássicos vivem, na bolorência da erudição social, nominalmente. Julgou-se, de conseguinte, que traria avantajado proveito m1ciar-se. nesta R evista, uma série de exemp los das g randes páginas do português, Uma minúscula introducção cdtica e bibliog ráph ica procederá cada tl'echo transcrito, succedendo a reprodução da página escolhida um glo&sário, quan– do se faça mistér. * Padre Manuel Bernárdez Dent?·e os escritores portugueses denominados clássi– cos, nenhum, de certo, se avanta,ia a Bernárdez 1~a garridice da fórma, na graça da intensão, na cas ta expressão cCe vo– lúpia com que narra as anedoc tas, e no recorte incisivo . das imagens . Sua prosa é duma fl exibilidade surprehenden– te para a época . Escreveu pui·issimamente. Só se lhe pode compa1'a1' Frei Luis ele Sousa e Vieira, e moderadamente r astilh o. Sobre o esty lo elo oratoriano seiscentista, tem es te curioso conceito o terrivel José Agostinho ele lvJacUo : " Não sei que hajamelho1· livro ( Nova Flores~a ) nem esc1'itor mais eminentemente portugu8s. Alli está a líng ua portugiwsa na sua pu1'ez_a, na sua harmonia, na sua magestade, na sua opuléncia; e a ninguem devemos mais, quando se tra ta da lingua portuguesa. A cadci página se acham frases e pa– lavras não vistas nem sabidas pelos nossos mai labo1'iosos dicciona?'istas ." Nasce1i o padre Manuel Bernárdez, em L is– boa po1· 1644-, vindo mo1'rer no deciwso do anno de 171 O. Deixou uma 1·ica collecção de obras religiosas. Embora seja opinião divulgada que o padre esc1·evia sem esmero algum, na simplici<Iacle ascética dum fi.lho de Deus , não e aceitavel tal ve1'sâo: através do fl uente da narrativa, sente-se no la– bor da p rosa, o esme1·il elo artista cepilhanclo, ordenando o rythmo grada tivo dos acordes, as camb iáncias mati– laclas do colorido. O que, porém, se me afigura como qua– li dade dominante ele seu estylo É A PROPRLEDADE DE EXPRI·

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