Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912
REVISTA DO ENSINO 293 Páginas eseo1hid~s Por F . R. Por sediço o conceito, quasi seria inutil rememoral-o: que a lingua lite– rária não se aprende nas grammáticas. E de experiéncia se verifica que em geral os grammáticos são escri– tores de nenhuma excellencia; e doutra banda, que os prosadores, artistas, muitas das vezes laboram na desmemória ou desconhecimento dos preceitos e regras. A língua só pode ser estudada nas páginas dos seus grandes escritores. F oram elles que a aformosen taram e lhe emprestaram esse ar senhoril de lou– çanias, recamando-a dos mais ricos adornos, dos mais delicados relevos e fio- · r entes alindamen tos para a estrauha vida da expressão. O estylo. essa pbysionomia dynámica da escri ta, sendo um traço de in– dividuação do artista entra por sua vez para o conjuncto expressional das bel– lezas da língua. A leitura dos mestres é como que o laborató1-io esthétieo da arte de escrever. Não quer isto sig nificar que os modelos magistraes sejam irreffectidamen te copiados : assim nã:o se produz iria obra original, mas apenas uma resonância remota de timbres mor tos : ell es são, porem, o domínio do aprendizado que todo li terato deve perlustrar com dedicado amôr de quem se empenha pelo maior esplendôr duma língua que traduziu a alma u'niversal de Luis de Camões , e que guardou as confissões lapidares do padre Manuel Bcrnárdez, o verbo arroubado do claridades de An tónio Vieira . o zelo disciplinado pela correcção da língua ha de cultivar-se desde a puerícia pa ra que de futuro a juventude o aperfeiçoe no f3smero duma lapidação mais original, segundo as aptidões ingênitas. · Cabe, portanto aos mestres, desde logo, tentar com esforçado empenho 0 exercitamento do alumno no mester de falar e escrever uma lín,-,.ua sem vicws nativos que a maculam, sem barbarismos que a deslustrem, sen:estran– geiri~mos que a aviltem e desnacionalizem. _A vida dos pov~s ó attestada pela maior vitalidade da linguagem, e sua 1mmortalidade reside nas formas que a .Arte escolheu para fixai-a. Revelam uma auséncia elementar de conhecimento da ]Jsycholo,,.· d · . • • • . 0 1a a cri- ança e oxhibcm falta d~ d1scorn1m~nto esthet1co, os que julgam que 80 devem jogar á. curiosidade do mfante os livros clássicos.- E lles são O tédio cerebral da j uven tude. Na sua maioria, escritos sem intuito de serem obras d ' ·te ~ ~ 0 .. 1 d · 'dº , a1 , SclO em 0 018 obscuros, e leitura fas t1 1osa, so de lona-e em longe ab · d • v rm o-se em aurea graça dum· grau de tocante emoção. O que se demonst•·a · t l · - ,. e que en ro os c as-
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0