Revista do Ensino - v.1, n.5, 15 jan 1912
290 REVISTA DO ENSINO Com a Astronomia a relação é menos íntima e menos precisa, mas nem por isso inexistente. Basta a impossibilidade manifesta de comprehender claramente a theoria da gravidade, e estabelecer. uma exacta anályse racional de seus effeitos geraes sôbre o orgarusmo, se se isolasse esse phenómeno fundamental do da gravitação celeste. Em outra ordem de idéas, seria radicalmente impossível c~n– ceber, d'uma maneira verdadeiramente scientífica, o systema geral das condições de existência própria dos corpos vivos se se não toma em consideração 6 conjuncto dos elementos astronómicos que cara– cterizam o planeta á superfície ~o qual estudamos a vida, pois que a vida suppõe, por sua natureza, entre o organismo que a exercita e o meio ~m que se realiza, uma harmonia fundamental. O estudo philosóphico da sciencia astronómica é porventura ainda mais indispensavel á perfeita educação prévia dos biologist~s racionaes sob o ponto de vista puramente lógico, isto é, do méth.odo. A nenhuma fonte, com effeito, podem os biólogos buscar os verda– Jeiros elementos básicos do méthodo positivo, do que n~ sciência que o apresenta em seu desenvolvimento mais completo, mais puro e mais expontáneo, tal a Astronomia. E' o cotejo com ella que pode mo~trar altamente a inanidade radical das concepções mais ou menos metaphysicas, predominantes principalmente em Psychologia, e das quaes a Astronomia, entre todas as sciências fundamentaes, está por completo expurgada, pesar do longo domínio da astrologia nas edades antiga e média. Emfim, é unicamente pela meditação familiar da philosophia astronómica que os biologistas podem aprender em que consiste a · sã instituição das hypótheses scientíficas (Comte) . Foi da applicação d'esse méthodo que surdiu a tlieoria da evo– lução, a que a Biologia deveu o seu espantoso desenvolvimento para uma positividade maior. - A relação da Biologia para com a sciência mathemática existe sob vário aspecto . 'rodos os phenómenos d'uma ordem qualei_uer são essencial– mente suj~itos a leis invari_aveis, _cuj~ d~scoberta constitue sempre 0 fim das diversas especulaçoes philosophicas (Comte). Se se podesse conceber, em certo caso, q~e sob a influência de condições exacta– mente similares os phenómenos não ficassem perfeitamente idênticos toda theoria scientífica tornar-se-hia logo radicalmente impossível'. E', pois, indispensavel de reconhecer, em princípio, que mesmo nos phenómenos eminentemente complexos que se referem á sciência dos seres vivos, cada uma das diversas acções verdadeiramente elemen– tares que concorrem á sua producção, variaria necessariamente se– gundo leis precisas, isto é, mathemáticas, se podessemos estudal-a
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