Revista do Ensino - v.1, n.4, 15 dez 1911

REVI STA DO ENSINO 221 intestina que lhe r esponda. A morte acciden tal implica certas mu tações mecánicas visinhas, cujas causas escaparam ao en– tendimento por falta de attenção, ou eram de tal modo com– plicadas que seus r esultados não poderam ser previstos : em consequência, certas r elações orgánicas não se ·conforma– r am ás condições do meio ambiente . D'esta maneira se vê que a sentença de Spencer no de– finido da vida pr ocm·a ser completa, e por todas as ba1idas ,, ajustada e suff iciente. Uma definição, que deixei para o fim, seduz pela curteza e simplicid ade. Elaborou-a o saudoso professor P izarro, de que acima falei.- «A vida é a r es ultante da instabilidade mo– lecul ar do protoplasma ». E' uma comprehensão mecánica da vida. O protoplasma é um corpo mui complexo que existe na n atureza; sua composição chímica é conhecida : nella entram C, O, H, Az, S, Ph, CI, K, Na, Ca, Mg, Fe, Si, F l. O que o dis– tingue, quando vi,o, é a troca incessante de materiaes com o mundo exterior: o movimento de composição e de decompo– sição determina a constante instabilidade de suas molécul as. Ao mesmo passo que se dá esta circulação de matér ia 110 metabolismo orgánico, dá-se uma verdadeira cir cul ação de en ergia , que é a man ifestação exterior da vida , a chamada fôrça vital. De maneira que o protoplasma é, no s·eu desloca– mento molecular perp étuo, um r eservatório qe forças de ten– são, que, a diffe rentes infl uências, se tornam livres e appare– cem sob a fó rma de ener gia cinética (trabalho mecánico, calor, etc.) Assim a palavr a 1·esultante tem aqui a verdadeira signi– fica ção mecánica: a instabilidade do protoplasma desprende, ,/ em vário sentido, ener gia ou forças simultâneas, que produzem por composição uma fôrça única, a sua r esultante, que é a vida. Quando o protoplasma passa d'esse es tado de instabili– dade mol ecul ar para uma posição fixa, estavel, das moléculas componentes, dá-se a morte. . 1 Essa definição afigura-se-me a melhor porque considera a vid a n a sua manifes tação primórdia, que é no protoplasma cellular. Todos os seres provêm d' uma céllula : ontogenenetica– men te, d' um germen proven iente de um genitor (Omne vivum ex ovo, como disse Harvei); phylogeneticamente, d 'uma cél– lula inicial, partícul a primeira de matéria viva, que surdiu á superfície da terra, p_ara evoluir lentame~te, modificar-se, desen– volver-se, até os mais complexos organismos actuaes . Assim, a definição àe Pi_zarr-o é a mais .philosóphica, por synthéti ca, e por melhor se a1ustar á verdadeira theoria da biogénese. O mesmo Spenc~r! em out~a maneira, já havia expresso idéa idêntica : « A matena orgãmca reage d' um modo especial aos agen tes de emtôrno; em consequência da extrema instabi– lidade dos compostos que a constituem, leves desarranjos ,

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