Revista do Ensino - v.1, n.4, 15 dez 1911
REVISTA DO ENSINO 219 A vida, segundo Blainville, <é o duplo movimento in– t erno de composição e de decom.posição, ao mesmo tempo ge– ral e contínuo». E sta definição, que Augusto Oomte classifica luminosa, fo i acceita e propag1:1da pelos prosélytos do p ositivismo. ' Ao juizo do geni al pbilósopho, não deix a ell a n ada de impor tante a dosej ar,. a não ser uma indicação mai s directa, e explícita, das duas condições fundamentaes correla tivas, ne– cessâriamente in separaveis do estado v ivo: um organismo determinado e um meio conveniente. De aviso contrário, Spencer no ta defeitos nessa defini– ção. A seu ver, ella convém ao que os pbysiologistas chamam vida vegetativa ou nutrição propriamen te dita, mas exclue a v ida / de relação, isto é, as fun cções nervosa.s e musculares, que põem o organismo em contacto com o mundo exterior. D'outro lado, ella se applica não só aos phenómenos de integração e dPsin– tegração que se oper am em um corpo vivo, mas t ambém a ou– tros que se dão alhures, numa pilha elâctri ca, por exemplo, onde se passa um duplo movimen to interno de composição e de decomposição, ao mesmo tempo ger al e contínuo. .. · A primeira censura de Spencér não colhe, por insubsis– tente quando se encar a a vida cellul ar , e não as su as modali– dades no indivíduo de organização complexa e elevada. A vida tem de ser caracterizada na sua manifestação elementar, pro– toplásmica, onde não existem ainda funcções, e apenas as sim– ples propriedades fundamentaes da matéria viva-a nutrição, a irritabilidade, a contractilidade, tudo muito connexo, num ser diminuto, invisivel a olhos desarmados. Só num org ani smo mais adiantado, multicellular, é que certas partes vão ten– dendo, pelo princípio da divisão do trabalho , a se especializar nesta ou naquella propriedade, de maneira a constituir as fun cções. D'estas, as de relação são as mai s alevantadas: mal' se concebe, senão por acurado es tudo, que as funcções psychi– cas do h omeip.- a sua intelligência, a sua sensibili dade, a sua von tade- estejam em germen numa pa r tícul a insignificante de matér ia viva, qual o óvulo fecund ado. O que se póde dizer é que a vida ce1lular, tanto d' uma céllula secretóri a, ou con– j unctiva, como cl 'uma fi bra muscular , ou d' um neurónio, é sempre a mesma n a sua manifestação intr ínseca, e se caracteriz a por esse movimento geral e con tínuo de as– similação e de desassimil ação. Oomte, com a sua per spicácia, an tes da contradicta de Spencer, j á a havia previsto e rebatido, ao asseverar que, na immen~a maior ia dos ser es, a v ida animal ou . de relação era um simples aperfe içoamento compl ementar, superaj un tado, por assim dizer, á vida orgánica, fundamental ou vegetativa, e própria quer a lhe procur ar materiaes por uma intelligente 1 reacção sobr e o muncto exter ior , quer a preparar -lhe ou faci- I
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