Revista do Ensino - v.1, n.4, 15 dez 1911

REVISTA DO ENSINO 237 EXPOSIÇÃO DE PINTO A A patriotica idéa do governo do Estado, de fundar em Belem um Salão official de pintura, mereceu calorosos \ applausos dos artistas e da sociedade culta. Numa vista de conjuncta, á impre~são panorâmica das galerias, neste primeiro certamen 1 somos levados a affirmar simplesmente que dentre as telas_, ·como obras d' Arte de maior relevo, se destacam o Retrato de mu l her ( nº 74 ) de Es– COBAR D'ALMEIDA, e o retrato (nº 34;) de J. ARTHUR. Na pri– meira cabeça, a justeza do desenho é tamanha que faz r esaltar a semelhança human a, cpm uma intrepidez de expres– são adQ1Ír avel. A movei e imperceptível degradação das lu• zes que se apagam nas sombras, o acabado do contorno , a seriação homogênea dos dotes physionómicos, despertam á fi gura uma vida intensa, interior, que assignala em definitivo uma p,:;ychologia. E sem conhecer . o modelo, estamos certos de existência rnora l d ' aquella mulher: E' esta a grande arte do retrato: a vida moral do per– sonagem . O trabalho de J . ARTHUR, embora inacabado, r evela um desenhador emérito e um colorista atormentado p_ela ver– dade subj ectiva das cores . O enrugado da epiderme mace– rada, sua saturação da luz ambiente, a vida dos músculos in– visiveis, presentfdos, e a escultura de máscara óssea que se adivinha na envoltório elástico da pelle, e que fixa , a phy– sionomia, independente da cor , e o ánimo ser eno que lhe adormece na pupílla- impr imem-lhe um caracter de r esig– nação, que se concentra em visionamentos lon gínquos de r ecor dações, ·acordando saudades mortas . A obra de J . AR– THUR não é apenas um r etrato: vive alli a synthese emo– cional duma vida humana .- Des te mesmo arti sta é de no– tar-se ainda o seu 1 desenho á penna.- Diabo a solta, dum mo– vimento plástico e expressional de singular interesse pela variedade e harmonia. F eriu destro e certeiro, 0 intuito có– mico, o desenhador: e a figura do diabo se expande agitada

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