Revista do Ensino - v.1, n.4, 15 dez 1911

218 REVISTA DO ENSINO embora, um tal obstáculo '? a verdade, a vida de cada orga– nismo deixa de ser possivel logo que a constituição de seu meio arn biente venha a soffrer, sob um aspecto qualqu19r, mui grandes perturbações: e nesse caso a acção exterior se torna, effectiYamente, destructiva. Mas, encerrada nos limites de vari– ação conveniente, é habitualmente conservadora. Certos philósophos, principalmente na Alemanha, têm generalizado com excesso a noção abstracta da vida, tornando sua comprehensão exactamente equivalente á da actividade expontánea. Como todos os corpos naturaes são activos, em graus diversos e segundo modos differentes, tornava-se diffici l li gar ao nome de vida uma significação distincta, inconfundí– vel. Tal abuso levar-nos hia á antiga confusão de a tl'ibuir a vida a todos os corpos. Convém r estringir cuidadosamente esse termo aos seres r ealmente vivos, isto é, aos que são orga– nizados (Com te) . Quando se quer definir algo de complexo, ou fazer uma o-ener:ilização de factos que não são simples, é impossível de deixar de ahi comprehender mais do que se deve, ou de e ·cluir coisas que se desejavam inclusas. D'onde a d ifficuld ade quasi insuperavel das definições de factos biológicos, e outros. As– sim a árdua arefa de encontrar na synthe. e do definido a justa noção da vida, que não fique aquém, nem vá além, e seja exactamente suffici ....nte (Oomte). Schelling disse que «a vida é a tendência~ individuação , . De feito, a matéria viva, em vez de se mostrar em mas– sas contínuas como as rochas, é destribuida em indivíduos distinctos. os animaes, nas plantas, nos protóbios, notam-se sempre, salvo symbioses ou monstruosidades, existências indi– viduaes: os homens, os carneiros, as sapucaias, as bactérias são seres independentes. Apesar d'isso, a definição é passive! de crítica. Em pri– meiro logar, ella visa menos as mudanças funccionaes, que constituem a vida, do que o aspecto estructural das aggrega– ções de mat'ria organizada : é um definido antes anatómico ou somático, elo que physiológico. Em segundo Jogar, compre– hende na id éa de vida coisas que cl'ahi se excluem, por exem– plo a crystalliz ação: todas as vezes que um mineral toma o estado sólido em condições de tranquilidade, lentamente, dá-se um arranjo regular de suas partículas moleculares produzin– do crystaes bem definidos; nesse phenómeno de ordem physica, a matéria inorgánica demonstra também sua tendência ' a individualizar-Re. A sentença de Rieherand- «a vida é uma collecção de phen6menos que se succedem um ao outro durante um tempo limitado em um corpo organizado, está sujeita ao inevitavel óbice de se applicar, do mesmo passo, á decomposição que se opera depois da morte, onde ha a mesma collecção de phenó– menos que ~e succedem em limitado tempo.

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