Revista do Ensino - v.1, n.3, 15 nov 1911
REVISTA DO ENSINO 143 ênc ia da linguagem, servindo- se duma única frase que !;i6 fóca em várias anályses, e marcando a li nh a divisória entl'e os ramos em que a ár vore da aciência se esgnlh a : g ra.mmàtica, g rammática histór ica, g lottologia, geogra– phia linguística, dialectolog ia, e fin almen te Philolo gia. 1) Das séries de con ferências, revelam de cer to ma is empenho de dili– gência e são dum ga nho maior á nossa leit1.u-a, as que fornm proferidas do início a 1905. .r esse percurso prelectivo nm vasto scenário da ,história do portuguê~ se desdobra á nossa v i ão curiosa ; e desde a origem e eroliição da Ung-ua até as observações 01·thog1·áphicas, as fon tes do léx ico, a phonologia hi stórica, os vestíg ios dos casos latinos, o escó li o dos textos antigos, o portug·uês p roto-h istórico, os pbenómenos archaicos do falar hodierno e os exem– pl os de dis imilação,-- consti tuem estágios de ensinança em que nos detemos mordidos pela mais agulhaote impaciência de tudo apreudêr. As lições de phil logia são um li vrn seivoso de idéas, e · rcpleto de experimen tos na esphera li tterária da lí ngua, a in teressar não sómente o grammático como tambem o homem dê letra , o estytilista afanoso n J conhe– cimen to de evolução esthética da lí ngua. Até porque se não pode compre– hende r escritor-artista que não conheça com de mo rado e pnJpi tànte zelo Oi u tensí lios de que se serve ll(l u oo quotidiano para enroupar suas icl éas, in– vestir d'asas co rpóreas as chammas invisíveis das emoções. 1) Na sciência da linguagem. como em todo rnmo novo de conhecimento, que tem corpo c se systematisn om ordenação lógica, ú descobert a dne relácões que deriva,n, da nafll· r eza das coisa ,-predomina ainda uma certo confusão q uanto aos lin ites de> campo em que ella deve ngir, e'.> fim qu e deve visionar. Houve como que um affluxo téchnico das sciências circunvisinh anLes, ta l coroo succedeu, após n palavra de Augusto Comte, á sociologia. Uma distincçõo, porém, parece ter merecido o consenso de todos: que a Linguística é uma sciência natural e a philologia uma scíência histórica. E' mais t rahall.Jo literário, de espírito clássico, de feito a obra do pbilólogo, que vive fascina– do pela ex pressão verbal n as suas rela~ões de affinidade com o podêr da belleza dos ter mos, do seu brilho imagista, do seu systema representativo. O linguista é antes um physiólogo O ' bistolog istn na investig3çüo somático do se r vi vo. E' o phil61ogo um estatuário amoroso dos con– tornos, das linhas, do movimento har mónico das expressões atrnvés~do tempo. scm,mcrrER faz esta curiosa differenQa d uma clnrez1< inestlmavel: , O linguista é um naturalista; estuda a Ling ua como o ootánico as plantas. O botânico abrange dum re– lanQo d'olhos O conjuncto dos organismos vegetaes; in\·estiga ns leis da estructura das plantas, do seu d senvolvimento; nl o se preoccupa, porém, com a muitn ou pouca valia dos vegetaes, nem com O precioso de llJ U emprego, tllo pouco com a gsrridice de sua for mosura. A seus olhos O primeiro rebento duma er va mú pode ter maior incauto, despertar mais lnti• ma alegria que O mais belln das rosas, o mais rar o dos !frios. E' bem diverso. a figura do phi– lólogo. Não serú ao bot:íulco que o devemos comparar, e sim ao horticultor. Este só concede desvelos O certas espécies dignas dum cuidado todo particular: elle procura na flo r O bel– eu viçosa dos ornatos, a coloração, o pe1·fume.•-- - A. HovutACQl'E, in Linguistiq_u e.– Cf. tambem,F. BorP, Gram. Comp., tJ.-o d. e I ntro. de BRéA.t ; vol. 1- Mu MllLLER, La sctence d'lt lan· gage;- De SATOE, P ríncip es de Phi l . coniparée;- E . L1".'1'nít, H ist. de la lang. r,·ançaise, vol. I;– WHJTSl!Y, La Vie du lang;-.\. D..ulUE:SlET&R, G1a.1n. H ist. vol. I;- BRAClJKT. Gram.-F. BRUL'IOT, Histoire de la lang. franc. vol I;- ZABOROWi IU, L' Ot·igiile du lang;-A . CoBLBo, .à lingu." Por– tuguesa-, [ , Joj.o RlnJURo, Dice. G1·am.
RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0