Revista do Ensino - v.1, n.3, 15 nov 1911

REVISTA DO ENSINO 141 século XVI por diante a vitalidade daquelle idioma se amortece e apaga. ·o dr . Vasconcellos, de mortos annos, fez observações curiosas sobre a evolução e permanência do M..ira.ndês. · Interessado pela luta entre o falar grave ( como lá se chamn o por- tuguês) e o dialecto obscuro, levantou á sua glória o monumento dessa obrn notavel. Ouçamol-o: e: O mirandês é a língua doméstica de um povo símplez, entregue aos trabalhos rumes, e afastado do resto de Portugal num canto da província mais atrasada, material e rntellectualmente, do país... Cingindo- me só ao mí.mero redondo dé 10.000 indivíduos qua fa lam o mirandês, aínda assim, a porcentagem dos analphabetos ó espanto a, pois estes não ficam in feriores ao número redondo de 9.000 indivíduos >. 1 l Os falares de Miranda são ori gin ários do latim. E para que o leito r possa ter uma idéti. do que é esse dialecto cina i de todo desconhecido, e do valôr inestimavel do tentamen do pbilólogo lusitano que o tron1.e á vida · literária, reproduzo tuna tradução feita pelo dr. Vasconcellos dum soneto de Camões :· Tu q'<?.ras la mi alma, i me Evgiste Tã cedo , d'este mundo desgustosa. Bibe sfa,mpr<!. ocr; cielo, ah bFa ncn l'.'osa ! Y -;f ôu qued'ocá na tic.rra sicmpl'.'c triste?.. .S'al óá, n cs;;C?. lhugar d'onde cb.ubi.sk, Pode chC?.gal'.' d'la bida ddorosa ~ Un' alhC?:.mbrança, lhe:1nbra-tc piadonn D e?. 1 pu1•0 amor que nci; m íus olho;; bisk. Y s'anfondirC?.S que podrá mccer-k, A lgo este miu delor que m e quedou Po l a grande desgracio e perder-te, Pid' a Dhu,, que ls tou::< anh os OOl!'ll.l'.'iou, Que me lhicbe d'acz:it tà brcbc o ber-k Cumo é l de pie de mi t' a ti lhcbou. ! 1 · Por este ospécimen d'arte camoniana transplantado inequi_vocameute para O dialecto, averi gua-se a füiação histórica do :Mirand0s e seu gráu de parentesco com o allego e o portug·uõs. Até ao eculo XVI deveria ser grande a paridade morphológica entre essas falas de Portugal. Ne. a intensa e freque u te prcoccupação de glottólogo, em que experi– menta emoções rnras, que nós desconhecemos,-á descoberta dos vocábulos na miragem das etym~logías, a . pesquisas das línguas prestes a morrer-elle se tornou uma curiosidade. E todos os pbenómeuos da linguagem popular, da 1) Estudos de Philologi:t Mirnndesa, pg. 153, vol. 1. ~) Opa. cit. Pí· 87. vol. II.

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