Revista do Ensino - v.1, n.3, 15 nov 1911
REVISTA DO ENSINO 161 - Menino! Perdi agora cincoenta niil réis! - Cincoen ta mil réis, minha velha? E cm~o? -- Não seL Cahiu-me. Eu trazia a no ta amarrada num lenço branco - Pois nem o lenço apparece. Oh, que desgr_aça ! que desgraça! O dinheiro não era meu ! E r ompeu a chorar nervosamente, que fazi a pen a. Nisto come_çou a chover copiosamente , e afa stamo-nos . Consegui occultar -me no vão de uma porta, muito preoccu– pado com o caso. Quem teria achado o dinheiro ? E , se eu o achasse? Não hesit0 em declarar agora qu,e desejei achal-o para ficar com elle. - Oh, Luciano! - Sim, Mamã, tive esse horr ível desejo. Mas ouve. Que dei-me n logar onde es;tava, emquanto a chuvada não di– minuía. E eis senão quando a poucos passos do portal eu, deslumbrad0, vi um lenço branco fei to em 116 ! Devia ser o dinhe~- · r o ! Não me contive : arrebatado de àlegri a, corri, affrontei a chuva, apanhei o lenço. Effectivamente, desfeito o nó, appa– receu a cédula de cincoenta mil r éis, não de todo humidecida. Confe sso que, nesse primeiro momento de enthusiasmo, só dese– jei comp r ar cincoenta mil réis de brinquedos ! Peusei: compro uma linda boneca para a Sarah, um automovel para o Paulo, e o resto todo para mim .. . - Oh, Luciano! Nós r ecusari amos ! - Ouçam o res to, e hão de me dar beijos.Logo que a chuva cessou, cor ri á casa das Neves, dei, conforme pude, o recado da mamã e p arti par a a loj a de brinquedos. Mas, n a occasião em que entrava, experimentei no meu intim0 uma impressão t~o desagradavel, que r ecuei, meio tonto. Viéra-me á idéia a ima– gem da pobre velha com o chale pela cabeça, chorando alto e di;endo: - Oh, que desgraça !que desgraça ! O dinheiro n ão era meu! · Senti immediatamente uma ünmensa ver gonha de mim mesmo. Parecia que o meu coração me bradava, pulsando com viol encia: - Luciano! Vê o que fazes! Onde ganhas te esse di,iheíro ? Esse dinheiro não é teu ! E até (como as coisas se combinam! ) o lenço, que eu ainda
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