Revista do Ensino - v.1, n.3, 15 nov 1911

' - 160 REVISTA DO ENSINO . 1 • te tomar o cego pela mão, indicar -lhe o verdadeiro s1mp esmen · · d ante . l a salvo do perigo. Quando o visse ir a e , cammho, po -o - . . - 11 'o . d d stre de que seria fata lmente vict1ma, se eu nao 1 livre o esa . • · ha alegria ~or força que havia de ser 1mmensa. ev1tasse, mm l-' . • · mesmo olhando para dentro de mim propria, sen- E comm1go ' h ·' d di·gna dos meus semelhantes, eu diria com orgul o : tm o-me _ -Fiz o meu dever; pratiquei uma bôa acçao. Ora, se me sentia feliz por ter feito o Bem, e experimenta~a na alma uma tão intensa vibração de contentamento, não havia duvida que, embora p0r momentos, eu conhecêra onde estava o Paraíso ... -Onde? ~Em minha consciencia. E lla me affirmaria que, sendo pobre, não tendo talvez saúde, sendo honrada e trabalhando ob– scuramente, eu conhecêra a verdadeira v-entura, a grande ven– tura de exercitar o Bem, cumprindo, portanto, com éffusão de pra– zor e de sinceriedade, aquell e suave mandamento intimo, que espalhar ia em deredor de mim, não recompensas, que não deve– mos ter nunca em vista- mas allivio e jubilo sem conta. Compre– hendem agora que cada um de nós, seja o Paulo, seja a Sarah, seja o Luciano, pode ter dentro _em si proprio um Paraiso tão perfumado, tão bello e tão perfeito como o da Biblia. Meu_amiguinho Luciano es tá de accordo? -Per fe itamente, Mamã. E, a proposito, quero contar um episodio que ainda não havia tido animo de referir. Passou– se commigo. -Comtigo ? Sim. E creio que tem relação com a nossa conversa. -Pois conta. Mamã conhece o Fabricio, vendeiro, que mora na outra es– quina e tem uma filha paralytica? Pois o Fabricio está ao par do meu caso. Foi ha u~ mez, ou pouco mais. Mamã mandára-me á casa da~ N~ves com um recado. Não te lembras? Foi por causa de um ves~ido da Sarah. Faz ia mau tempo; a tarde es tava chu– vosa. Eu rn com passo rápido, receioso de ser apanhado pelo aguaceiro, quando vi uma velhinha, toda curvadinha, um chale preto na cabeça , e que me disse, com voz meio velada, em que eu sentia lagrimas:

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