Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911
114 REVI STA DO ENSINO nada ás dimensões da obra, variando para cada objecto, suggerindo, expri- mindo , dando a qualidade. . Cada arvore tem o seu caracter difíercn te, não só de fórma como de densidade de fol11agem. Para indicar, para dar a ide ia d'essa diversidade ; é necessario variar a maneira de faze r. Não basta dar a imp ressão da arvore; é precise, fa zer reconhece r a especie. Como reproduz ir, pelo nrn8mo trabalho do pin r.el , a elastic idade e transparencia da carne humana e a dureza d'um meta l ? a deli cada frag ili– dade d'uma flô r e a solidez d' um tronco? Como di fferenciar o velludo do setim, o vidro do marmo:·e ? O toque é a call igraph ia do pin tor. Todos os g randes mestres têm uma maneira di.fferente de tocar , para exprimir e dar a qualidade particular do objecto; mas essa maneira é indi– vidual e característica para cada um d'elles. D'ah i r esulta o caracter incon– fundí vel da obra de cada ai·tista. Os ita lianos fi zeram cxcepção ; procederam de modo a não deixar trans– parecer o trabalho do pincel, o que afinal , constitue, sob o ponto de visti. do métier, a característica da escóla. Os venezianos foram os prime iros que usaram outro processo; mas foi en tre os flamengos e hollandezes que o toque adquiriu a sua max ima ousadia e individualidade. Todos os prncessos devem ser ensi nados, para que os discípulos, conh e– cendo-os, possam mais tarde seguir aqu~lle que melhor convenha ao seu temperamento artistico. En tre os trabalhos apresen tados n 'es ta exposição abundam os desenhos a lapis. ' E~tc methodo tem sido um pouco descurado en tre nós, tal vez por se julgar um meio infe rior d'expressâo, o que é um erro evidente. Com a sua adoptação tudo póde alcançar- se: qualidade, modelnçào, effeito. Os recurso; que elle proporciol)a ahi estão bem patentes, na. reprodu– cção de tão diversos e variados motivos. O lapis é indispensavel ao paysagista, ao arti,,ta que trabalh a. ao ar livre, para o seu alburn de nota, . Para este fim, para uma excu rsão ou viagem, o carvão, o proces o classico, pela sua e:i.:trema frag· ilidade, seria absolutamente inutil. Ao alumno e ao artista devem merecer especial atlenção os estudos das plantas, das folhas e flores. J á Bernard de Palissy dizia que d'este mundo co isa alguma tanto o deleitava como o seu jardim. O elemento floral na decúração tem, de ha annos a esta parte, adqui– rido uma irnportam'.ia cada vez maior. Nas escólas estrangeiras fazem- se r igorosos estudos da planta, do natu– ral, tanto no conjuncto como no detalhe, para a sua applicação ornamen tal. Em algumas, ba cursos e.speciaes de flora, fauna e paysagem decora– tiva, C!lmo em Bruxellas e em South Kensin gton , por exemplo, tendo com isso aproveitado immensamente a ourivesaria, a ceramica, a marceuaria, os bordado , o ferro fo rjado, todas as industrias cmfim. E ' devé ras lamentavel que · em P ortugal não se tenha seguido este •exemplo. Nas nossas escólas industriaes não ba uma cadei ra de fl ora orn amen tal ind ispensavel aos decoradores, util e necessn,ria a ~lgummas das bellas arte~ 8 especialmente ás artes de adôrno. Cumpr~ accen tuar que alguns dos estud(ls patentes )?.'esta exposição foram executados pelas. a!umnas ~1;11 suas casas, ou n~ campo, longe dos olhos do professor; em sua opm1ão, test1f1cam elles o aproveitamento real e effecti vo das educandas, o resulta.do livre do ensino recebido .
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