Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911

REVISTA DO ENSINO 69 sima evolução hão de sofrer os três idiomas nos países onde eles se origi– naram, antes que esses países desapareçam poli ticamente da face da terra e do desenho dos mapas. Nem é sómente isto. Admitido mesmo num distante porvir esse aniquilamento, o espírito destas nações perduraria aínda por tempo incal– culável: o latim univer sal era o latim <ie Roma, como o gr ego comum era o da Gr écia, como o italiano liter ár,io é o da Toscana. Sôbre tais fa ctos não há discussão possível, tam evidentes êles são. Se á Academia Brasileira apr az estabelecer um cisma ortog r áfico, o qual poderia evitar com uma r azoável condescendência, que em nada influi nos p rincípios ger ais e essenciais da reforma, Portugal, por si, tem de i:nanter-se no lugar que por herança lhe compete, como defensor do idioma pátrio que criou, ilust'roU: e continua a ilustrar e a cultivar , . (1) · • Aprovada que foi a r eforma brasileira, a Academia a coordenou em regras que não traslado temei;ido alongar este breve éscorço (2). Não viçaram, ao que parece, nem entre os immortaes , os p receitos exarados no decr6to da Academia. Assim é que leio 110 Jornal do Comniercio, o Sr J osé Veríssimo annunciando , com notavel coragem, uma outra r eunião dos acadêmicos , para r eformar a reformação da escrita por elles hon tem adoptada . - -Foi por demais precoce a caduquez, pois nem durásio se mostr ou o fruto. · Felicitemo ..nos, todavia, por acto de tão alevan tado pa- ' triotismo . Porque cada systema assim or den ado , numa mistu– r ação de sympathias indivi duaes, sem attender para as leis que r egem e pau tam a história da língua ,-virá trazer maior confu– são á anarchi a r einante na escrjtura do por tuguês, derr amando no espírito de todos a incerteza, o desamor, até que se chegue a escrever diversamente uma dada palavra, sem que n inguem a h aja escr ito mal. Será então a época cacográphi ca ·cta língua por tuguêsa. \ * De tudo quan to se tem escrito seriamente sobre a sim- pleza orthográphica, é o trabalho do Sr . Gonçálvez -Viana- º que apresenta maior probabilidade de êxito, pois o escritor em tudo se fez guiar, no desdobramento das bases de seu pro– gramma, pelo methodo histórico, á luz da evolução dos phenóme- - nos da linguagem. Em p arte, esses princípios foram adopt ados pelos philó– logos e escri tores po rtugueses . E o que .de perto se referia á simplificaç~ o, foi mandado usar na gr aph1a dos livros escolares de P ortuo-al. Recentemente o governo português nomeiou uma commissão para em definitivo r esolver e ultimar o código fun– damental dum systema orthogr áphico para a nação. (1) A. n. ooNÇAL,-..z vIA..'1~, - Vocabulá,-io Ort. e ortoépico da língua port. PO· VIII. (2) V. Revista da Academia brasileira, de letras, To!. I.- Clíndido Fig ueiredo,- A. orto• orafia 1\0 Brasil.

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