Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911

REVISTA DO ENSINO 113 O Ensino do Desenho ·Abrindo na cidade do Porto, em Portugal, á visitação p ublica, uma exposição de desenho e p intura organisada com os traba lhos dos seus discípulos, o professor Arthur Loure iro fez preceder o catalago da referida exposição de conceitos e cornmen tários que, por muito opportunos, julgamos de bom serviço transcrever para nossas columnas . Hoje que, en tre nós, o ensino do desenho se desenvolve de fór rn a promissora, graças ao estimulo advindo das Exposi– ções Esco lares, henemeritamente instituídas pelo governo do Estado, vêmos nos conceitos expend idos pelo competente artista ensinamen tos profícuos , q ue devem ser lidos com attenção por aquelles que se dedicam ao ensino e aprendisado dessa utilis– sima arte . N'esta exposição de provas da applicação dos que têm frequentado esta escóla predominam os desenhos, porque, sem desenhar bem, é absolu– tamente impossível pintar bem. Desenhar é representar, ou reproduzir por meio de linhas e valores, aquill o que vemos. . . _ . . P,ara o conseguir, com exact1dao e verdade, e necessano saber vêr. Dois elementos essenc1aes h:1, no estudo do desenho: a acção material da vista e da mão; e o traba~ho intellectual, o habito de observar, com jus– teza, e de gravar na memoria essa observação, até que a mão a tenha reproduzido. . . Copiar uma es tampa, ou um de~enbo, e ~1mp~e~mente reprodu:i;ír uma observnção f~ita por outrem; est~ meio de ensmo e incompleto; e póde ser imp.Jrfeito. Só se educa a mão; e pó~l~ educa r-s~ mal, porque o discípulo imitará a manei ra do desenhado~· pr1m1t1vo do cartao que tem na sua fr ente, maneira que póde não ser perfeita. · Entre os trabalhos apresentados não ha um só que tenha sido copiado d'uma estampa, ou d'um dese_nh ~, mesmo. de grande m_estre. . Depois dos element,os m~lSJ?ensave1~ d~ perspectiva, theona e prática, e, quasi ao mesmo tempo! o d1 c1pulo pn~c1p10u a ~esenhar do natural, a planta, a flór, 0 modelo vivo e o µ;esso . .Ass1,m educa simultaneamente a vista e a mão; adquire O habito de ?bservar ; ve pelos seus proprios ol hos, não pelos dos outros, com? s~c_cede~1a, copiando uma estampa. E' 0 meio de ori- ginar e accentuar a rnd1v1dualidade . Em arte, ser pessoal é uma qi:a.Ii~ade de capitalissima importancia,. uma qualidade essencial, de todas a pnmeu-a Em uma escóla d'est~ ordem, 0 _que deve ~r~valecer é o que poderá chamar-se o ensino do métier, ? I?aneJO ~o utensd_10, o meio d 'expressar o caracter das coisas, . levando o dtscipul~ ª tirar Omaior partido das suas facu l– dades naturaes e desenvolve:-las o ma 1 c?mpleta~nente possivel. ~ ." ~ maneira de pôr a_ tmta,_ o toque, e d uma 1mportancia extraordinaria. Nao e rndifferente condttz1r. o pmcel em um_a ou outra direcção; d~screver curvas ou rectas; pousar o prncel na t~la, ma!s ou menos carregado de tintas e empre_gando maior ou . men?r pressao._ E rnd1s~ensavel que a maneira de tocar seJa nã,o só apropriada a substancia das COJPas, mas tambem subordi-

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