Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911

REVISTA DO ENSINO 111 O globo nesses tempos primitivos, apresentava o aspecto de um mar em chammas, sem limites e sem margen , agitado por tempestades perpétuas - causadas pelas mil reacções chimicas que necessariamente se deviam operar em seu seio. No entanto, com a continuação , o resfriamento deve de ter principiado a coagular a superfície terrestre, e d'aí formar fulg urantes / bolas de gêlo, que, embatendo-se mutuamente e quebrando-se umas nas outras, a cabariam 11lfim pox se soldarem entre si, como os gelos polares, que acabam . por formarem immóveis massas g laciaes, máu grado a agitação das ondas. Em torno desse primeiro invólucro sólido, inteiramente rugoso e eriçado, que fazia o nosso planeta a ·semelhar-se a uma enorme massa de scórias ar– dentes,-turbilhonava certa atmosphera duma espessura incomparavelmente mais pesada que a da atmosphera que hôj e nos circunda; e isto porque, mistu– rados ao a1· que respiramos agora, e que era em outros tempos enormemen te dilatado, essa atmosphera conservava suspensos o mar inteiro, ainda em estado de vapôr, immensas quantidados de terras e de saes reduzidos ao estado gazoso, e que se não hav iam ainda sufficientemente resfriado, para que se condensassem. Os mais pesados e espessos vapores obscureciam a parte inferior desta atmosphera, da qual, ao contrári o, os gazes mais leves, mais inflamáveis, occu– pavam a parte superior, onde fo rmavam uma verdadeira phostosphera análoga. a que havia no sol. Era en tão a Terra um astro luminoso por si mesmo, uma vexdadeira estrella. Este estado não persisti~, mas nada ha nisso que nos sur– prehenda, porque o mesmo facto já algures se nos apresentou, e os astrónomos. contaram no céu muitas estrella-s lumino&as outr'ora, e cujos iogos se acham, de nossos dias, apagados. Quem poderá descrever as scenas admiraveis e terrivei~que se passaram nessas regiões necessariamente desordenadas pelas trovoadas, e das quaes as nossas tempestades equinociaes não nos poderão sequer dar a mais leve idéa do que tenham ellas sido? Furiosos ventos ger $J.es , produzidos pela extrema velocidade do movimento de rotação das camadas atmosphéricas superiôres, -deviam de rasgar nuvens mil vezes mais densas e sombrias do que as que em actuaes dias de inverno pezam sobre as nossas cabeças, e de formar, em torno do globo nascente, faixas análogas as que vemos na superfície de Jli.– piter. As combinações que a eada momento se produziam, davam logar a um enorme desenvolvimento de electricidade que se manifestava por chamme– jantes auroras boreaes, e por espantosos roncos de trovões, emquanto que d'outras bandas, por entre neblinas metállicas e trombas aéreas, rútilos vapo• r~s so vinham apagar, estas scenas, cuja ap!tvorante magnificência, nenhum pincel humano poderá jamais representar. Em meio dessa desordem apparente, a ordem reinava no entanto, pois que o resfriamento SE", continuava; a crosta terrestre tomava maior consistên– ci~, e chuvas d'água fervendo carregada& de matérias salinas e terrosas, con· tnbuíam, pouco a pouco, pa~a que a atmosphera se purificasse. S. de PAD ILHA .

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