Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911

110 REVISTA DO ENSINO mente estas lacunas que a sciência é incapaz de preencher, vi sto o estado de imperfeição em que actualmente ainda se encontra. Ao centro da nebulosa terrestre, o r esfriamento deve de ter acabado por formar um núcleo de matérias em fusão. Que a Terra na sua segunda fa– se genesíaca, tenha pas~ado pelo estado líquido, ou pelo menos pastoso, temol-o claramente demostrado pelo facto de seu achatamento nos polos. A terra deve ter sido desde o seu pr incípio, como aínda o é hôj e, animada de um movimento de rotação sôbre o seu eixo; ella deve ter tido sem– pre uma fórma mais ou menos esphérica. Ora, sabemol-o já, todas as forças de uma esphera são attraídas para o seu centro por uma força chamada força centrípeta. Se esta esphera gira sobre si mesmo, este movimento de rotação dá logar a uma outra força, que é denominadaforça ce:ntrífiiga, cuja têndencia é, ao contrario, de afastar estas mesmas partes do seu centro , da mesma fórma que a pedra collocada numa funda quer escapulir da r êde de couro em que se acha presa. Se es tas duas forças contrárias fo ssem absolutamente eguaes em intensidade, destruir-se-iam mutuamente, e em nada seria alterada a for– ma esphérica; isso porém se não dá, porque a força centrífuga está em constante r elação com a velocidade da rotação, e a velocidacle, isto á, o espaço circular per corrido na unidade do tempo pelas partes do globo terrestre cir cunvi sinhas do equador, é evidentemente maior que a velocidade das par– tes da ter ra que ficam perto dos polos. Se a for ça centrífuga, agindo sob esta última região, contrabalança exactamente o força centrípeta pela qual ellas são tambem attraídas, claro está que o mesmo não acontecerá na pro– ximidade do equadôr, onde a velocidode,-e por conseguinte a força centrí– fuga,~ é maior, em quanto que a for ça centrípeta, não variou, pois que é sempre egual em todos os pontos da superfície da Terra. As partes situ– adas para as bandas do equador, tender ão sempre a se afastar do centro da esphera, e obedecerão a esta tendência, se, permanecendo ainda em estado liquido, ellas poderem deslizar livremente umas sobre as outras . A esphera •augmentará de volume no equadõr, ou, o que vem a dar no mesmo, será acha– tada nos polos. O que realmente maravilha, é que os sábios do século XVIII, par– tindo destes princípios, e auxiliados unicamente pelos cálculos, tenham chegado a determinar o tamanho exacto desse achatamento. E as mais precisas medi– das confirmaram, posteriormente, a exactidão de suas previsões! Ora, repitamol-o uma vez mais, só se explica este achatamento, no caso em que a Terra, quando ellc se produziu, estivesse cm estado fluido , porque um bloco sólido, como por exemplo uma bola de bilhar, poderia girar a vontade sobre si mesmo, que a sua fórma, com cer teza, não seria por isso m'odificada. A' época em que foram feitos os cálculos de que falamos, alguns sábios aventaram a ideia de que, se o g·lobo estivera em estado pastoso ou fluido, deviamos attribuil-o a presença das águas que impregavam a Terra, e que a transformavam num immenso monte de lama. Hoje, j á niuguem varticipa dessa maneira de ver– e a natureza vítrea das rochas mais profund amente escondidas no seio da terra, os evidentes signaes de fu ·ão ígnea que ellas apresentam, a existência de seu calor central, e mil outros factos, que seria supérfluo numerar, demons– tr&m, que o globo-não sómente foi outr'or&, mas a.inda. bôje é, interiormente, ma.is fluido que as lavl\S dos vulcões. · 1

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