Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911
REVISTA DO ENSINO 109 · Por t0da a p arte em que se cavou a terra, descobriu-se que a medida que se lhe descia em profundidade, mai s se lhe augmentava a tempera tum. Ficou provado que este augmen to de temperatura é de um gr áu, centígrado, por cada 33 metros, de onde resulta,- admittindo que este accréscimo se continue de uma maneira unifórme,-que no centro da terra, o calôr seria de 193.234 gráus, calôr que excede tudo o que nossa imaginação póde ava– liar, e, suppondo mesmo que este accréscimo de temperatura diminua ou cesse absolutamente em certa profundeza, a qual seria por exemplo a quinta parte do ráio terrestre, ainda assim o calôr attingiria nesta profundi~ade cer· ca de 3.800 gráus, isto é, seria elle superiôr ao que podemos produzir em nossos laboratórios, e ao qual nenhuma substáncia conhecida pode resist\r• Se assim é, e o clerramamento das lavas p'31a cratera dos vulcões não deixa dúvidas de que a uma pequena profundeza o calôr seja bastante intenso para manter em estado de ignea fusão os mais refractários rochedos; se assim é, como se torna evidente, que durante os milhares ele séculos que nos sepa– ram do dia do nascimento da Terra, esse c':llôr deve de ter consideravelmente diminuído,- é evidente tambem, que nessa época elle devia ele ser assás in– tenso para manter em estado gazoso ou de vBpor todos os corpos qua sómente encontramos, de nossos dias, em estado sólido ou em estado líquido. A Terra , ao começo, não passava de uma mas s'.1 gazosa, e esta massa er a enorme, pois é já sabido que os sólidos ou líquidos augmentam consideravelmente de volnm quando passam ao estado gazoso. Para, o espectadôr collocad cm um elos planêtas mais velhos que a Terra, esta lhe pareceria incomparavelmente maior que o sol, e se o mesmo espectadôr se podesse transportar para uma das estrellas fixas que brilham a diversas centenas de milhões de léguas longe de nós, a Terra se lhe apresentaria sob o aspecto duma destas transparentes nebulosas que Herschell considerava como mundos em via de for mação. .Mas como estes gazes se teriam condensado acabando por formar o globo terrestre? A esta questão, como ás demais que se vão seguir, não po– deremos responder senão incompl etamente, porque as leis physiológicas do reino sideral,- graças ao preconceito que fazia considerar os astros como corpos brutos e privados de vida, como se fossem elles g randes cadáveres er– rantes no espaço ,-nunca tendo sido estudadas, sómente nos prestam auxílio em nossas investigações, dados fornecidos pela chímica e pela physica. Como d'outro lado, está mais que evidente que tudo se r elaciona na naturêza, e que nenhum ser, seja qual cllc fô'r, não se pode desenvolver unicamente p elas suas próprias fo1·ças e_ sem_ o auxilio de ~odas ;>s _outros _sêres, e como, a não ser as leis da attracça , v1veinos numa 1gnorancia quas1 completa das r elações que os mundos man têm entre si, é impossível não ficar insoluvel uma grande parte do problema, e por conseguinte patentear que a nossa sciên– cia actual, por mais adiantada que ella esteja, e sem que por isso seja falsa, não é mais do que uma mêia sciência. Com esta restricção, que era de nosso , tlever fazer entraremos no ass unto que estudamos. 1 ' li O resfriamento basta para exp cara condensação successiva das ca- n~ad~s gazosas das quaes se compunha_ o que é hôje o nosso planeta. Falta– ria dizer, é verdade, porque este resfnamento teve logar ; e mais, mostrar em que _se transformou ess~. enorme quantidade de calôr perdido; e ainda, descrever a natureza do meJo no qual se banhava a Terra quando em es– tado gazoso, e que acção este mêio podia exercer sobre ella. Mas são justa-
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