Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911
108 REVISTA DO ENSINO Como as histórias das nações, a história da Ter ra se baseia em do _ cumentos anthênticos, em monumentos, dos quaes uma crítica san chega a descobrir a verdadeir a significação;- mas, assim como a história civil, a história natw·al, ao iniciar-se, deve de recorrêr á hypóthese, e de não avan– çar senão hesitando, á luz s~mpre incerta das analog ias . A questão da s origen_s será eternamente uma questão insolúvel para o homem, que arrastado por uma irresistivel curiosidade, sempre quís, no en tanto, resolvel-a. Outrora, a qualquer pergunta desta natureza, uma resposta estava sempre pr onta: Deus quis que assim fosse. Depois disso não podiamos senão submettermo-nos e calarmo-nos. Todos os livros sagrados começam por uma Génese, na qual nos mostram Deu s creando ou constr uindo a terra, e fazendo que ella seja, d~sde o seu primeiro dia, tal qual a vemos hoj e.- A idéa que o nosso século faz da natureza e da perfeição de Deus, não mais nos permitte de crêr nesse capricho, que, arrancando-o á sua eterna ociosidade, .o decidia a emprehender o imcomprehensível milagre da creação, embora se reservando um repouso final. Parece-nos mais religioso pensar,-ao envez de recorrer a essas fantasmagóricas scênas theatraes,– que Deus só se manifesta ao mundo pela permanência das leis da natureza, que são t-ambem suas leis. A mais geral dessas l(lis, é que todo o ser vivo traz a sua origem de um acto geradôr. Porque faria a Terra única excepção a essa lei univer– sal? Porque. não acceitar essa im mensa fonte de calôr e de vida q ue é o sol, como princípio dessa familia de planêtas, que, como a criança ao sêio ma– terno, parecem ainda suspensos em seus ráios? Esta hypótbese é a que, por uma iórmula exclusivamente mecánica, t'xprimi/o immortal Laplace, e que aínda hôj e adoptam todos os sábios. O sol, como nol-o mostra o telescópio, é composto de um núcleo líquido ou sólido, circundado de duas atmospheras gazosos, das guaes a exterior cha– mada photosphéra, é luminosa, sendo obscura -a interior. Os astrónomos .con– cordam em considerar 03 planetas como porções que se despegam dessas duas atmospheras, e c.;ão lançadas ao espaço pela acção da for~a centrífuga. A hypóthese, sob esta fórma, tem a vantagem ele explicar por que as órbitas dos planetas se encontram todas em p lanos que se aoi·oximam do plano do equadôr solar; mas ella pecca pela sua impotência em explicar porque esta projecção de m téria gazosa teve logar de preferência em certa época, antes que em qualquer uma outra; difficuldade esta que as theorias puramente mécanicas nao podem resolver, mas que para logo desaparece quando transp rtamos a questã para o terreno phy,1iológico. Sob este ponto de vista, comprehende-se facilmente que os planêtas hajam succes– sivamente saído do seio materno, a medida que deco1Teram os tempos fixados para a sua gestação. Do que se não pode duvidar, é que as l~is da mecánica e da phystca tenham presidido a esse acto; mas que ellas fossem as únicas a presidil-o, é o que se não pode admittir, por pouco que se tenha Q sentimento da vida universal. A nossa gên ese, começará pois por est& hypótbese, que pelo menos tem O mérito de estar ligada a todos os factos conhecidos, pe!as mais estrei– tas analogjas, e de assim render homenagem a permanência das leis da na– t êza: J,T'aqtielle tempo, o sol CRL!JOU a tena. ur E O seu segundo vt-rsículo : E a ten·a nada mais ~-a senão i,ma massa e incandescente, já não mais pertence ao domínio da poesia, e pode desde r:::~. provado pelas mais legítimas inclucçõos tiradas da experiência.
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