Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911
REVISTA DO ENSINO 95 Realmente a inspiração, emtanto que representa o «extracto do nada)) , é palavra oca, sem significação . Nada se cria em um cerebro nem mesmo no dum Berryer : o que se faz sam associados, combi- nações novas de imagens. · A inspiração é a memori a superexcitada por uma attenção que concentra todas as energias cerebraes num ponto preciso ; ou ha phrase de Fouillée-é a maré crescente das associações em que to– das as ondas nen·osas, sob a attracção durr.a força commum, se alçam e se entretêm na massa fremente do cerebr·o. -Mas as associações, facto precípuo no,s processos ele runemonização, resultam, em ultima analyse, como ensina James, «do habito nervoso. » Tal não foi para os antigos e não o é ainda para muitos elos modernos . Aristoteles e os seus cliscipulos de todos os jaezes, excessiva– mente propensos á schemati sação logica, ensinam, sem functamento que os, phenomenos de as ociações de ideias obedecem a quatro leis irreductiveis: « semelhança e contraste, simultaneidade e successão . » Era berri natural que assim dogmatisasse o celebre stagirita, a cujo pensar todas as qualidades essenciaes dos corpos se desfazem tam– bem em quatro elementos, sob a rubrica de «frios » e «quentes » chu– midos » e «seccos ». Hoje, porém, ninguem as deve admittir, pois ahi estão as provas, mais que evidentes, da observação scientific,L a mostrar-nos essas pretensas leis psychologicas como product os comple– xos de formas bastante mais simples (2) Podem- se sem duvida, clil-o J ames, pensar todas as especies de connexões imaginaveis : exist encia, similari dade, contraste, con– tradicção, causa e effeito, meios e fins , pa.rte e todo, cedo e tarde, genero e especie, substancia e accidente, grande e pequeno e não sa– bemos que outras connexões, pois que a serie destas é infinita. Mas porque segúimos de facto este caminho antes que aquelle? Porque depois de havermos pensado A em taes t empos e logar, viemos a pensar B em t aes lagar e tempos e O em taes outros logar e tem– pos? As leis são aqui leis cerebraes; o pensamento parece depender de condi cções mecanicas que precisam, ao menos, a ordem em que lh e são presentados os objectos desti nados ás suas comparações e ás suas selecções. E assim as associações cravam-se nos objectos das ideias e não nas ideia em si mesmas . • Daqui , pois, o distinçuirmos com J ames a associação processus physiologico, da associação processus psychologico : aquella é a causa ~esta; es_ta é lidima resu~ta.nte daquel;a .. A associação psychologica e uma ligação mental, nao entre as ideias, maEi entre os ohjectos destas ideias. Ao envez, a, associação ps_y'c~!~gica é uma ligação en– t..e processos cerebraes e representa o prmc1p10 que determina e re– gula a ordem de f' Uccessão dos estados de con sciencia. Q 1 .1alquer y_ue seja o conteudo da consciencia tal conteudo é sempre determinado pela. actividade de um processo ce~ebral elementar e pela excitação que elle transmitte a taes ou t aes outros processos elementares já precedentemente por elle influenciados. (2) Wundt-Human and animal psychology, Lect. XX- t. ing.
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