Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911

REVISTA DO ENSINO 67 par de fórma literária no escrever exemplar e -erudita, um vasto conhecimento da glóttica, um saber téchnico. Pareciam por de todo alheios ao digno e laborioso acadê– mico estes predicados. Aínda assim, o docunrnnto academicial trazia no seu bôjo e circunvisinbança algumas excellentes disposições: eram porêrn transplantações dos princípios simplificadores e uniformizadores do eminente philólogo Sr. Goriçálvez Viana, que os havia ennu– merado, de parçaria com G. de Vasconcellos Abreu, indianista emérito, nas Bases da Orto_qrafia p01·tuguêsa, no anno remoto de 1885. Remoçou-os elle ao de novo, dispondo-os em méthodo definitivo, numa applicação systemática, na sua obra mestra- Ortografia Nacional. . Não me quero tresmalhar numa crítica á reforma da Aca– demia brasileira, que de sobejo _está conhecida no muito de seus feios vícios e no pouco de suas virtudes, e principalmente no effeito negativo que a sua decretação Yeio patentear. A orthographia adaptada por essa assembléa literária não sim– plificou, tam pouco uniformizou a nossa escrita. E si a anar– chia não fo i completa, é que as leis que não são a syntbese dos phenómenos homogêneos, observados na vida consuetudi– nária, morrem pela atrophia, perecem á indifferença da funcção que deviam exer-citar.-Sob um ponto de vista geral, e que affecta a esthética da idioma português, o projecto da Acade– mia tentava proclamar o que já se chamou um soisma prosó– dioo, aquem e alem-mar, na língua portuguesa. Examinemos rapidamente os pontos de divergência en– tre as bases propostas pelo Sr. Gonçálvez Viana e o projecto da Academia brasileira. O Sr. Medeiros e Albuquerque, homem de muito andar com o tempo, in tende que o padrão normal da pronúncia por– tuguêsa deve de ser o falar de brasileiros, ou especialmente, o falar de académicos. Juízo este, leviano talvez, e tanto quanto temerário. As línguas não são engrenagens artificiaes. Cada uma é um organismo vivente corno os da biologia. E os volapuques e esperantos, verdadeiras rnáchinas de fa lar, não passam de cu– riosidades infantis, exercícios de pessoas sem excessivas occu– pações. E assim é que se póde dizêr que o esperanto, por exemplo, está entre os id iomas naturaes, como um manequim entre criaturas vivas. Com essas línguas1 que nem ao me– nos merecem o epítheto de mortas, pois que nunca viveram, já se poderia formar um outro Museu Grévin, de palavras e frases, plasticizadas em bonecas de cêra. Está fóra portanto do poder discrecionário dum cená– culo de letras, ainda mesmo duma Academia, aferir ao seu talante da pronúncia de uma língua, sem attender á sua con– textura histórica, não tom ando por modêlo o povo que a criou, e a vem disciplinando através dos séculos pela obra de seus

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0