Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911
• 66 REVISTA DO ENSINO Toda língua tem o seu typo normal de pronúncia. De accôrdo, em gera1, com 3: origem e a evolução lídima dos vocá– bulos, o quadro prosódtco obedece á .corrente de gente cul.ta , que, numa certa época, dá cunho á pbysionomia da língua, emquanto os escritôre~ lhe emprestam expressão literária defi– nitiva, valôres de sentido, na sua modelagem generalizada. Póde dizêr-se que o systema phónetico é o característico natural da língua. Até quási ao fim do século XV, o portuguAs tinha a escrita simples; os sons eram reproduzidos por letras sino-elas. Os grupos consonantaes, em que mais tarde entrari am phone– mas parasitários, não eram empregados. Foi a erudição dos humanistas que,- por yma_il~usã? da gê~ese ~1is~6rica da língua, acreditando o portugues or1gmár10 do lat11n classico cicerónico– quís faz el-o modelado em primôres orthográphicos, a exem– plos da latinidade,-(1)_C~mo é sabid_o o_ gallécio-português como todas as demais lrnguas nov1-latmas-foi fusionado pelo la tim ple~eu, pelo lat~rn s6r~ido , ª,? contacto das legiões romana . O latnn popular: nao as vm nascer; pela fusão, operou o seu desdobramento, ass1gnalou a sua metamorphoso linguísticti, nellas perpetuando-se (2) * Por 1907 ~ Academia brasileira de letras recebia um projecto de refo~maçãó orthog_ráphica. J:acto singular, commet– timento verdadeiramente heróico, que vmha rasgar o manto de lantejoilas, com que d~ or linário, de_ noss~ n a_t1:1,ral usança, nos involvemos para dormir sobre questoes scient1flcas que deman– dam cultura aprofundada, esforço decidido e tenaz. O seu autôr, o illustre jornalista l\1edeiros e Albuquerque, hábil no des– porto das testilhas diárias, era de certo uma das competências de •menos monta no assunto, que de sua natureza requeria, a (1) Até mesmo nos que tinham uma comprehensão mais téchnica da estructura orga– nica do português, e nelle haviam esterootypndo modelos verbaes clumn bollczn O graça clcsco– nhccidns, como O Padre Vieira, ha equfvocoe inloreseantee.- « ... só mendiga ele outras lfn– guas os que são pobres de cabedaes da nossa, tão rica e bem dotada como filha primogênita da latina," escrecreveu o grande prbgador. Sabidamente a primeira língua em que O latim vul– gar se fixou, desdoorando-se, foi o antigo provençal. O português não é <las linguas i·ománicas a primogênito, e sim a penúltima qno se orgnnisou mail-o gallcgo. Como attestado do que aquella– idea era geral, na época,-Cofr. CAMÕES, LusfADAS, C. I. est. 33; A1<Tó~,o Fo1t1tE11u, Poemas Lu.'li– tanos, T. II, pg. 17, ed. Rollandiann ; DUAll.TE NCNl'Z DO Lúo, Orlhooraphia d1t Linoua Port1t- guesa., c. IV. . (2) t de divulgado conhecimento, que os romanos victoriosoe impunham aos vencidos 0 predomínio do sua Jingua vulgar. Assim, eob esse influxo, os dialectos evolveram repartindo-se nas segJintes formas typicae: na pentnsula Ibérica temos o português e o castelhano; na Gãllia 0 provençal e o francês; na Suiaaa oriental, o ladino; na pen!nsula itálica, o _italiano; 0 0 ru– meno falado na bacia inferiôr do Danúbio.- O português, que tovo f6rma Iiter6ria no século XlI sómente se desenvencilhou por CO'Dpleto do gallego, n() inicio elo século XIV. '
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