Revista do Ensino - v.1, n.2, 15 out 1911

REVISTA DO ENSINO 77 um supérfluo de vida, em uma actividade de luxo », é o di stinctivo sublime da humanidade . Os animaes inferiores esmo encerrados em um círculo es– treito : nutrir- se, defend er-:se, dormir e propagar a espécie. O homem, que pelas suas descobertas se pôs a cavalleiro das necessidades elementares, pôde abandonar por momento o trabalho rude da vida, e dar livre jogo á in– telligência e á imaginação. Nessa e libertação momentánea >, creou a ar– chitectura, a es tatuária, a pintura, a música, a poesia: d'aí, maior aproxi– mação social, pela sympathia artística : melhor c11lto á virtude, porque · as más acções são feias : e, sobretudo, o summo prazer e a summa felicidade, que dá a con templação ela boll eza . Na syatematização dc,s a tos ~olitivos, encontrou o h omem o meio ma• terial de se impor á natureza toda. Ao poder de sua von tade cederam os outros animaes, e elle se tornou o rei da creação. O selvagem, voluvel como as creanças, não tem ai.nela a tenacidade do querer; mas as raças civ ilizadas demonstram a sua forta eza justamente por essa união el e esforços sustenta– dos, a que as na ções fracás têm que ceder: foi assim 'lue o branco conquis– tou e povoou a Amér ica e ora conqui sta e povôa o con tinente africano. O mesmo em relação aos indivíduos . Não vencem somente, na con– corrência vital, os que têm mais vi gor r hysico ou clarividência .d'intellecto, ma· principalmente os pertinazes, os que se não ~eixam abater pela desil– lusão ou a ele esperan ça, mas contimyim, impertérritos, firmes , na certeza da victória de amanhan . · Ao mesmo passo que se desen vol ve a in telligência pela cultura; e se educa a sensibilidade pelo exemplo da virL·u de e pelo visionamento da belleza, ames tra- se a von tade pela acção. · Ag ir é v iver, não só a vida vegetativa, que é o constante movimento elas transformações orgáni c~s, mas a vida de relação com o mundo externo, com os outros ser es, com os mesmos semelh antes, fixando a consciência de sua personalidade na lucta pela existência. Ni sso estão seu valor e seu prazer, pois que, na palavra ele E ça de Queiroz, o homem só vale pela vontade, só no exercicio da vontade reside o goso da vida, porque se a von tade bem en tendida encon tra em torno el e si a submissão - então é a delicia do domínio sereno; se encon tra em torno de si a resistência- então é a delícia maior da Jucta interessante. BLBLIOGRAPUIA- Dar,v in, Oriuem das espécies, Vai·iação dos animaes e das p lantas, Descendência do h01neni. - Raeckel, Hist6ria da creação dos seres organizados.- Lub bock, O homem vrehist61·ico.-De Quatrefag·es, Ho– mens f osseis e lwmen.~ selvage ns, A esp écie hu11iana.-De Lanessan, O trans– jonnismo.-ilf ctchinikoff, Estudos sobre a natureza humana.-Ed. P errier, Tratado de Zoologia.- R. Perrier, Zoologia.-Aqbert, Hist61·ia natural dos séres vivos.- Ribot, Psycholor)ia dos sentirnentos.- Payot, Educação da von..: ta<le.-Eça de Queiroz, A illustre casa de Ramires.

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