Revista do Ensino - v.1, n.1, 07 set 1911

2 REVISTA DO ENSINO cuja applicação jamais utilizávamos. Toda energia adolescente do cérebro da mocidade, na primavera · duma força r eceptiva que não mais renasce, se esvaía esbanjada no exhaurido esforço da 1luta estiolante de seivas juvenís, no tentamem sobre-humano de imprimir na memória, como nas folhas dum manual encyclopédico, os preceitos, os ditames, a~ theorias, todo um mundo incoherente e vago de abstracções. Dentre os elementos geradôres do typo social, é só da educação que dispõe o homem á sua vontade. Quanto aos demais, hm·editariedade,meio e momento-agentes biólogicos, physicos, históricos - escapàm á órbita consciente do poder do educador. Infelizmente o mestre tinha da acção educativa uma compre– henção toda metaphysica. Desconhecendo de ordinário a criança sobre quem agia, tateava ás cegas, na impotência de submetter as índoles diversíssimas dos collegiaes a um padrão immutavel de ensinança, fóra da realidade objectiva, contrariando-lhes o instincto de natural curiosidade, obrigando-os ao tédio tortu– rante de decorar conceitos abstractós, sem lembrar-se de que somente a experiência gera o verdadeiro conhecimento das coisas. Ao professor, em geral, na escola só cabia o papel de re– gistar se a recitação seguia a ordem methódica do compêndio, se os passos se iam succedendo na sequência exigida pelo auctor. O alurnno não precisava comprehender, assimil3:r nem P,raticar a noção ensinada, bastava decoral-a para repet1l-a á hora dos exames, muito embora tempos depois tudo olvidasse, involto já numa névoa indistincta e fugidia. A r~forma do ensino primário no Pará obedeceu a outras normas, mais naturaes, mais em relação com a psychologia da in– fância. O systema mnemónico foi banido; hoj e predomina em todos os curso!'! elementares, através dos processos intuitivos, o ex– perimento como grande factôr de-aprendizado. A instrucção ex– perimental, de longa data familiar aos inglêses, é sem contes– tação o único meio pedagógico de tornar o alumno desde logo apto ao exercício das disciplinas estudadas, hábil na prática e applicação dos elementos scient'ificos que lhe deu a escola, sem fazel-o perder as suas qualidades éthicas de indi– víduo. E' a experiência o meio mais seguro de aprender. As theorias vêm depois como systematização do todo aprendido ordenando o conhecimento, elevando-o a um conceito philóso: phico, á generalidade unificadôra do saber. Através de~tas linhas ficou traçada a physionomia da Revi~ta _do Ensino e_ sua orientação pedagógica. Ella é uma con– clusao 1mprescend1vel á obra de remodelação didáctica dada pelo C~efe do Estado ao ensino público. Levando ao professor cada me~ ~ma somma notavel de avisos e princípios scientíficos e li– tera~10s,-que e1:1bora não sendo duma applicação concreta im– mediata, formarao um ambiente de cultura apropriado a ummais

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