Revista do Ensino - v.1, n.1, 07 set 1911
REVISTA DO ENSINO 27 No próximo nº publicaremos notícia crítica sobre o livro de J. Leite de Vasconcellos- LIÇÕES DE PHILOLOGIA PORTUGUESA. Notas sobre·oclima da Amazónia Por ADOLPHO DUOKE As já não poucas publicações, que se referem a.o clima da Amazo– ni:i, baseiam-se quasi sem excepção nas descripções fornecidas por alguns celebres viajantes s-cientificos extrangeiros, aos quaes a curta demora no paiz não permittiu realizar senão observações insuffiscientes, destituídas de da– dos estatísticos seguros e influenciadas pelas sensações individuaes, agra– daveis ou desagradaveis, experimentadas no novo ambiente. Estas descri– pções pódem agora ser rectificadas e completadas, quanto á capital do Pará, pelas observações meteorologicas feitas no nosso Museu cl'esde 1895, cujos re– sultados principaes aqui exponho, completanclo- os com algumas observaçõe~ realizadas e informações colhidas nas minhas viagens atravez de grande par– te da immensa bacia flu.vial do Rio-Mar. Abstenho- me de falar sobre a salubridade ou insalubridade da Ama– &onia (tão . larga e apaixonadamente âiscutidas nos escriptos da maiori& dos autores), porque as condições sanitarias d'um Jogar dependem, no estado actual da sciencia medica, muito mais de outros factores do que do clima, cabendo a este sómente o papel de favorecer ou difficultar o desenvolvi– mento dos microorganismos causas das molestias endemicas, e de seus tran– &missores. O nome de " enfermidades clima ticas ,, deve ser banido da scieu– eia moderna; para provai-o bastará citar uma das mais famigeradas entre as mo– lestias tidas como taes, a febre arnarella, cuja extincção no Pará e em outras cidades, antigos fócos endemicos, decerto nem os mais ignorantes quererão attribuir a uma. repentina mudança do clima. O que caracteriza o clima ª I?azonico e~ g~ral é a ~onsta~cia do ca.-– lor e da humidade. P orem, a in tensidade do primeiro não e muito grande; até agora os autores davam ~- temperatura_ m_edia de Bele~ m~ito aci~a da verdadeira, o qne succede alms para a ma10ria das estaçoes mtertrop1caes, onde as medias são calculadas sómente pelas tres obser vações dia.rias do cos– tume ( veja J . Hann, Meteorologia des Aequator?, I, p. 22 e 23 ). O profes– sor Hann estabeleceu em 25,8ºº a verdadeira media da temperatura de Belem, por t.res obser vações diarias feitas duran te nove annos ( 1895-1904 ) e por tres annos ( 1900-1903) de a.nnotnções do nosso a.pparelho re~istrador de temperaturas. Os nossos instrumentos estavam en tão collocados n'um logar fresco e humido, á sombra de espessa vegetação que r eproduzia qnasi a atmosphern, da mat~a. primitiva; mais tarde, to_rnando- se neces~ario mudal-os para um lo– g&r mais aberto ( posto que perfe1ta1:1en te ao abngo dos raios do sol), as temperaturas ficaram um pouco mais altas, principalmente á tarde. Repr o• du1110 aqui em parte a tabella das médias de temperatura, calculada&pele,
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