Revista do Ensino - v.1, n.1, 07 set 1911

I REVIS',l'A DO ENSINO 17 O cava.llo de corrida inglês procede d'uma mistura dos sangues árabe, turco e barbo; a selecção a l'tificial methódica fez d'elle um animal muito dif. feren~e dos que lhe deram oi:igem. Um auctor albiónico, que conhece bem a raça ar~be pura, pergunta: < . •. em vendo a nossa raça actual de cavallos de corrida, quem ousára conceber ser ella o resultado do cavallo árabe com a égua africana? > E' _verdade qu~ o ho~cm nnda póde sobre a prop~iedade, que possuem os ~eres yivos, de variar contmuamente; o que foz é reunir em torno d'elles, mais rapidamente,_mais completamente, mais cuidadosamente que o faria a natureza, as condições qne permittem á variabilidade de se manifestar sob as rórmas mais diversas. , Observemos um jardineiro dando todos os seus desvelos a .uma planta d um novo typo notavel pela belleza da flôr. Começa por escolher poucas s~mentes, as mPlhores, d'um g·rande ntimero de amostras provenientes d'um s~ e .mes~o ~po vegetal. A côr d·a flôr é coisa muito var!àvel. P lantas, cuja flor e ordmar1amente branca, podem ter de permeie flores de vário matiz, do a:.m! ao vermelho, por exemplo. Supponhamos que o jardineiro deseja ter uma va.r1edade vermelha. d'uma planta cuja flôr é branca d'ordinário; recolhe, d'en• tre os indivíduos provenientes do mesmo vejetal, os qut possuem a côr ver– melha mais pronunciadit, e semeia exclusivamente asna sementtJ para obter novos indivíduos d'essa variedade. Dando- se essa escolha, sempre com o mesmo Cl'itério, durante uma série de seis a dez gera<:Ões, conseguirá por fim uma plaut.a cuja ffôr será d'um belJo vermelho, como havia desejado ( Haeck el ). Idênticos processos são usados pelo agricultor, que quér produzir uma raça animal particular, por exemplo um typo de ovelha notavel pela finuva da lan. Separa, com a máximn persevernnça, os indivíduos que têm a la n mais fina; sómente esses ,;ervem para a reproducçào. Conti{!uando a pro• ceder assim com os descendentes, e nas gerações seguintes, as ovelhas che– garão a possuir um véllo tão fino c't>mo almejára o dono ( Haeckel ). Melhorando uma raça, se durante um tempo muito longo se afastam todos os indivíduos inferiores, ella tenderá evidentemente a fixar-se-. D 'aí, a um espírito menos perspicaz, podia vir a idei~ da _fixidez da raça questionada. Da experiência da selecção artificial surdiu expontaueamente a hy– póthese d'um processo análogo na natureza, ca paz de explicar a origem das espécies. · Foi sobre essa base que Danvin forjou a sua theo ~ia.da _selec~ na– tura l pela sobrevivência dos mais apto~ ~a ,lucta pela ex1sten~1a, quer para se assegurar 9 alimento, quér para res1,;t1r as causas de d~st:u1~ão. . Todo oro-anismo lucta, desde o começo de sua existê.ncia, com uma b • . • multidão de influências inimigas : lucta com os amm_a.es 9ue_ vivem :\ .sua custa, de que é O alimento habitual; lucta com a_s mfluen_c1as anorgam~as de diversa n:::.tureza, com a temperatura, com a mtempén e e outras c1r– cumstáncias; Iucta, afinal, com. os organismos que mais se lhe assemelham, que são da mesma espécie. . Sabe-se, d'outro lado, a progressão rap1?a1:1ente crescente segundo a qual tod(Js 0 8 seres oro-ani zados tendem a mult1phcar-se e a .encher um es– paço dado D'aí uma" concorrência vital, uma lucta pela existência tanto mais enca~içada 'quanto os concorrentes são mais _numerosos. Ness~ pugna, 0 ~ organismos menos privilegiados devem n ecessariamente succum?1r, sobre– vivendo os mai~ fortes, que conseguem perpetuar-se. Os que nao podem c?:npetir com estes, mas escapam á m?rte, vão es~belecer• se em outras 1:e– gioes, onde differem as condições da vida: dos emigrados, aquelles que nao soccumbem por não poder supportar a mu.dança de meio, se a.ccommodam,

RkJQdWJsaXNoZXIy MjU4NjU0