Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

·RE-V-IS'l'A EA A0ADEMIA• P,AB,AENSE- EE l:.ET:EÜS· , coração conserva ainda a memoria de todos os que se foram, para ,poder retratá-los com fervorosa ador~ção, na alegria espiritual do . ai:tista,· que se. utiliza da pena menos para escrever do que para esculpir estátuas, auscultando-lhes os frêmitos humanos. . Eu · também, como êsse psicólogo lúcido e objetivo que é Meaenas Rocha, guardo ainda o perfume dessas primeiras emoções da juventude, quando no aprendizado e no culto dos homens ilus– tres, sem as falsas admirações que se traduzem em fórmulas con- .. v:encionais, lhes sofria as influências dominadoras do cérebro e do : coração . Entre os mortos e os que ainda vivem, tôdas essas fi– gUÍ'as de jornalistas, escritores, oradores, poetas, médicos, juristas, professores que ·nos ensinaram com doçura a e.empreender as pri– meirás- lições da vida, irnplan_tando em nossos espíritos os horizon– tes de tirri mundo inédito, tôdas essas figuras palpitam em nossas reminiscências, tão próximas de, nós, tão vinculadas ao nosso afeto e à nossa sensibilidade, como se a voragem doi; anos tivesse dado trágua à. sua tarefa devastadora. São sombras que nos acompa– nham persistentemente nesta angustiosa peregrinação pelo pas- sado.' . • •• . Lem,bro, nesta hora de. recordações, os jornalistas, triunfan– .tei, d' A Província elo Pará, onde, aos quinze anos de idade, eu . ~ erà humilde revisor de provas. Educados na escola do velho An- . tônio' Lemos, cujo espirita aristocrático tinha o pendor da seleção de valo.ces; e obedecendo-lhe à orientação, na órbita do seu concei– fuacUssimo jornal, todos êles tinham os passos firmes rumo da mortalidade. Eu os admirava como a semi-deuses olímpicos : um ' Marques d e Carvalho, um Celso Vieira, um Ca~tro Pinto, um Eli– zéti Cesar, um Paulino de Brito, um Raul de Azevedo um Car– los pias Fernandes, um Alves de Sousa, um Humberto de Cam– pos, q1,1e, em "Cqrvalhos e Roseiras", lhe traçou à maneira de Sal9t-Sip-1on, o admirável perfil, e finalmente, um Romeu Mariz, o 1?ra_vo e genE:roso campeador, que foi o último baluarte de resistência, gu.ando a ba1xesa e a fe]Qnia dos trânsfugas reduziram a cinzas o glo– rioso. órgão da imprensa brasileira. · · Não 'esquecer, neste período de 1·esplandor mental da terra gua- . j;~u:in~. a atuação da "F~lha do Norte", iluminada pela inteligência mi– _nf1ca de Paulo Maranhao, 0 velho e destemeroso preliador, figura in– _ ,comparável de jornalista, pertencente à linhagem de Edua rdo Salamon- de; F erreira de Araújo Alcindo Guanabara, Azevedo Amaral e Assis , Chl;!-t~aubri?-nd.._Radicé)dos à; '_'Folha" e incorpoi:ados ao seu. patrimônio . esp1r)tual, mclu1am-se os ma1s renomados escntores e os mais flame– ' jantes poetas, -João de Deus do Rego à frente, que conquistavam entre ' os seus contemporâneos o brevet de charme et de beauté. · Quando em 1918, retornei a Belém, depois de vinte anos de au- sência ininterrupta, eram outras as entidades que preponderavam no ~éu ·clima intelectual. Havia uma coluna reflorida de escritores, jorna– listas e estétas, que lhe exercia a hegemonia espiritual. Salientavam– se ensaístas da estirpe do insigníssimo Remigio Fernandez, que, sôbre ser um poeta de extrema sensibilídade, se distinguia também como um l)ui;nanista hórs de pair; Severino Silva, aclamado, em memorável .con– curso, príncipe dos poetas paraenses ; Lucídio Freitas, o aedo magní– fico de "Vida Obscura" ; Oswaldo Orico, ainda adolescente, que já dei– xava entrever os surtos de sua radiosa destinação ; e, entre outros be– letristas, o meu_inesquecível Dejard de Mendonça, que, com a sua cul– tura de introspecção e de superfície, com o seu ardoroso temperamento ,de: panfletá rio, com a sua pugm1cidade heróica de jornalista e com o deslumbramento de sua eloquência feita de cachoeiras e relâmpagos, e ra conside rado o arquétpo de sua geração. Ef'!feixei-o a todos, mes– mo os de menor irradiaçao, destacando-lhes as arestas cintilantes em ''Alma Artística à e Belém". . ' Voltei a r eve r em 1928, dez anos mais tarde, a nobre cidade. dos meus encàntos, guàndo tive novamente uma aproximação mais íntima

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