Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMI A PARAENSE DE LETRAS 71 "Entre os vivos e os Mortos", o mais recente livro de Mecen as Rocha, é a prova de que o escritor continúa ainda apaixonado por tôdas as formas de beleza, sendo um primoroso ourives da palavra, cujas cinzeluras resplandescem através dessas páginas lapidares, onde se lhe revelam as características imanentes do estilo. O colorido pictórico dos retratos transmite as emoções creadoras do artista, que se embevece com as suas vibrações interiores. Penetrando as re– giões profundas da i nteligência e da sensibilidade dos escritores com quem conviveu, e escrutando os desvãos psicológicos dos seus modelos, Mecenas Rocha escreveu páginas definitivas. Tem-se a impressão desde logo que um livro como êste representa a prova testemunhal da vida e da obra de várias gerações de homens de letras para os quais foi seduzido por irresü:tiveis afinidades eleti– vas. Escritos e pensados a longos intervalos, sem nenhuma preo– cupação de ordem cronológica, êsses estudos vislumbram com uma fôrça de intuição singular os valores mais realçados da mentali– dade paraense, arrancap.do- os da penumbra do esquecimento. Mas não circunscreveu as suas evocações às inteligências da !!leba pri– vilegiada . Estendeu-se simultâneamente a homens de letras de outras províncias e até mesmo a figuras estrangeiras, de proje– ção internacional. ressuscitadas e enobrecidas p ela arte suntuária do evocador. Reconstuindo-lhes a obra, o . cativante espírito de Mecenas Rocha. em alternativas de amizade e exaltação, chega ao extremo de, não raras vezes, hipertrofiar-lhes em demasia o âm– bito da estrutura mental, como aconteceu quando se referiu, com excessiva gala:iteria de conceitos, ao obscuro escritor amazônico, autor destas notas à margem do seu livro notável. Confesso, e"n– tretanto, que o li com indizível emoção. Não poucas das figuras aí revividas dos clarões remotos do passado, já se tinham esvane– cido das minhas lembranças . Algumas até, nada obstante os vín– culos ·afetivos que nos ligaram na ~ocidade, jamais as identifica– ria, se as linhas fisionômicas dos retratos não fôssem tão impres– sivas. É pena que Mecenas Rocha, remontando a épocas tão dis– tantes não tivesse exclusivamente limitado, graças aos milagres de sua memória, à exposição, E:mbora em sintese, do panorama literário do Pará, através da evolução dos seus homens de in– teligência, que formam legiões. É um equívoco, evidente– mente, julgar que se possa resumir em uma só página, por mais reverberante, as configurações desmesuradas dos gran– des homens que · erigiram a glória da l i t e r a tu r a ,de seu País. De um D'Annunzio, por exemplo, desde que são ·inumerá– veis as obras inspiradas pelo modo de existência e pelos trabalhos literários do genial autor do •·n Piacere" ; ou então, entre os de nossa raça, as de Ruy Barbosa, que já foi estudado e discutido Ppr dezenas -~e biógrafos, _e cujo diâmetro me~ta! .extrapas~a a todas as medidas. Restringmdo as suas observaçoes a fauna inte– lectual de . sua formosa terra que é um viveiro de escritores e poétas, o livro de Mecenas Rocha avultaria de prestigio e seria c.ei ::tamente uma das melhores contribuições, pelo acervo dos s~b– s1d1os e pelo escrúpulo das seleções quando se tentasse fazer a his– toria• dos homens de pensamento 'da celebrada provípcia n!Jrtista. Mesmo desprezando as figuras de menor destaque, a1 desf1lanam em_Punhando os seus troféus gloriosos, as gerações de ontem e de hoJe, que lhe rememorariam os ciclos de maior esplendor. Eus– táquio de Azevedo, há muitos anos numa experiência sem êxito "Relo excesso de omissões, procurou congregá-las nas páginas de um livro onde lhes foram fixados o d escortino das idéais e a nature– za das inteligências . Mecenas Rocha com os conhecimentos exatos dos valores . de seu éempo e com a su~ particular predileção ~11; exn– mar do olvido os homens do JJassados estaria em cond1çoes de recompor a e?C,periência, ajuntando-lhe os adminículos do seu ta– lento de escntor. Verificaríamos dêsse modo que o seu grand~