Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS Há pessôas Que dificilmente resistem à tentação· do furto do livro Que desejam possuir, se, porventura, n ão conseguem obtê-lo de outra maneira. · Um "bouquiniste" do Cais Voltaire confidenciou a Maillard Que um membro do Instituto de França lhe p edira para copiar certos do– cumentos em sua casa. visto não os poder levar. pela irredutibilidade do possuidor, aue os não quis ceder. O respeitável sábio, entre copiar e arrancar as fôlhas, embolsando-as tranquilamente,· durante a ausência momentânea do· amável alfarrabista, preferiu sem remorsos o se- gundo alvitre. - O meu pobre Leopoldo Sousa, o mavioso poeta das "Sombras", a quem a morte arrebatou. num dia de São João. sufocando-lhe a ·vida numa golfada de sangue, formava o texto do seu "Tem tudo", seccio– nando nos volumes que lhe emprestavam as Produções de seu agrado. A fascinação de raPinliar o livro alheio, quer êle Pertença ao amigo dileto, quer às bibliotecas públicas. é uma fascinação comum a muita gente bôa e. em especial, aos bibliófilos, ora para venderem, Quando a biblografia não é a verdadeira p aixão da sua vida. ora para se apoderarem d e um exemplar que debalde procuraram nos "sebos" e Que lhes é particularmente útil. ' Os anais desta espécie de apropriações r egistam como maiores e ma is ativos compra.dores de livros r oubados, os inglese§ e os ale– mães, sem Que o conhecimento da origem das suas aQuisicoes os prive de as r ealizar, e são freauentemente os franceses as vítimas de tais surripiagens. - É conhecida a intransigência de certos possuidores d e biblio– tecas em não acolherem n elas visitantes. ainda Que sejam os seus mais íntimos amigos: O ba rão Westreenen van Tielandt nunca r ecebeu na sua quem quer aue fôsse, usando de subterfúgios engenhosos para afas– t ar os intrusos. Motteley mandou pôr fechaduras secretas às portas da casa e gradeou ainda as· aue levavam diretamente à sua biblioteca. Re– cusou-se até mesmo a admitir éonsêrtos indispensáveis à habitação que ameaçava ruína, preferindo vê-la desabar a p ermitir o aéesso a estranhos. Eu não sei como se pode entender claramente a leitura no livro alheio. Emile Deschanel não percebia b em senão os livros que comprava porQue só a êstes lhe era possível ligar o seu espírito. Lucher r ecusou– se a consultar um volume r a ro, porque não lhe pertencia. Custa-me acreditar Que Luculus I!ão sofresse prl':juizos ÇO!D o sJs.– tema de franquear a su a biblioteca a toda gente. Devia ter sido muito roubado. Era u sual no Século de Augusto - um dos Quati:o grandes sé– culos da História - cada Qual expor os livros Que possma no v!=!stfyul,o de suas moradas. p ara a leitur;i. pública , acedendo ao costume m stitm– do pelo amigo de Virgílio. Ao lado dos egoistas do Livr o encontram-se os Que preferem p er– d~-los, a sonegá-los . É dêles o altruístico pxjn~ípio : "Os meus livros sao meus e dos mem, amigos". r etomando a d1v1sa de Cha rles du Fay : "entre amigos tudo é comum". Neste sentido os autor es QUe se têm ocupado do assunto, desde o v eterano Richard' de Bury até Oct ave Uzane, fornecem-nos os , deta- lhes mais curiosos. · Calconet nunca recusou emPrest ar espécimes da sua biblioteca, limitando-se a substituir sem queixume, os que n ão er am restituídos. Boisset tinha uma biblioteca p ara si e oub-a pa ra os amigos. Heber ia ma is longe na orodi galidade . Ach ava que se d evia ter três : uma pa ra ser a pen as objeto de admiração geral , outra oara u so p róprio e 'outra para emprestar. Conh ecf'm-s!=!, graças a Fertia'}l~. os nomes dos mais fervente erPurcstado,...,s de livros : Luc11lus. Phmo, o Moco, Santo Izidro. J aq ues Augusto, Possevino, Cr escimbeni, d' Alf rr,i– bert, etc. Nessa lista podia ainda caber um nome : o de Antoruo Silva, cuja fíuna intel~ctqª l, de r hpidQ surto entre os boêmios de seu

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