Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

RE;V!S'!'A DA · AOAPEMIA PARAENSl!l DE ~ l'lM,S TRtS POEMAS DE W. EMAI'l{UEL Cidade Velha .., (Fragmento) II Na travessa de Cintra, ruazinha esburacada e feia, o 39 era como um Quasímodo em familia . Uma latente consanguinídade, se assim ouso dizer. transparecia da feiura da casa, da feiura da rua triste. Noutros tempos. quando nossa Cidade Velha ainda era jovem, rua da Agua das Flores, se chamava, poeticamente, aquela pobre Cintra. Românticas razões talvez houvesse. Quantos Romeu lusíadas, e quantas Julietas caboclas. com ternura, não acoitara a rua adolescente ! Mesmo então, nos conclúios amorosos o 39 não se envolveria .. . Com a sua larga, lisa e afta fachada, e a fenda estreita das janelas magras, e a éianótica nuanca da pintur a, e êsse ar de mausoléu aposentado que sonhos, que ilusões resistiriam ? Portas a dentro, uma tristeza mansa velava o gesto, a voz, o pensamento. Ali moramos, quando as vacas gordas desandaram, sem pena, a emagrecer .. . E com que rapidez emagreciam ! A nossa mesa, agora reduzida, serenamente r eduziu a zero o batalhão dos ótimos amigos .. . Nunca mais houve festas, não sei onde. Nem vestido de luxo. Ném · carruagens. A caixinha de j óias. pouco a pouco, virou caixa de música. somente. Compassivas, monótonas. as duas máauinas de costura r onronavam. 9uebrou-se o ouebra-luz de rosas brancas. .I!, o candieiro fidalgo, empobrecido, pôs-se a fazer ser ões. para v iver . ..

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