Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953
i. !.,.. tl.]s:VIST{\ DA A,CA_0E~UA P,µl,AENSE D.E LETRAS 65 su,leitos a acessos de fúria e de dureza, a miude agiam também sob acessos de generosidade ·e de doçura". • · · ·· - · .- Analisando mais intimamente a literatura· da escravidão, éoii..: clui. êle : "Não havia, como já se notou, separação nítida, distância notavel entre brancos e pretos. Das senzalas vinham para a 1::asa da f?-mília a~ mucamas, as c~iadas, as lavadeiras, os moleques, os bole-: erros, e toda essa gente vivia em contacto com os brancos, contacto quase nunca reservado e frio, comumente alegre e cordial. Por outtà lado, çis pretos não eram, está claro. tão cheios de qualidadés reco'- · mendaveis e, se os amos se excediam às vêzes na injustiça e na crueza, · êles também às vêzes praticavam faltas graves e revelavam inclina– ções perigosas. Enfim, o mal estava na própria instituição do cati..: veiro, da qual pretos e brancos foram vítimas, com diferentes papéis", Aí se encontra. resumido em períodos perfeitamente equilibra..: dos, o quadro verdadeiro das relações que uniram ou sel?ararain, em épocas diversas, senhores e escravos . Vê-se por êle que não 'proce– dem os açoitamentos bárbaros indicados na película que busca ser o documentário ou o romance nacional do cativeiro. E não proce– dem.porque há de levar-se em conta uma série de argumentos qué atenuaram, entre nós, o processo da escravidão : em primeiro lug~r. a ~assa formação mestiçada, que impunha moderaçã_o 110s _castigos aphcados a entes que se misturavam no nosso sangue ; depois, a IIi-' dole de uma sociedade de princípios cristãos, infensa ao safüsmo . e torturas corporais ; depois, o esoirito das leis com qu~ procurá;'{aµi_o~ : ~esd_e _longa data, uma solução humana para um fenomeno h1stonco mevitavel. . A carência de braços e as necessidades da _colônia ditaram os caminhos do povoamento do Brasil. E exploraçao do solo. Desde aq~êle te~to de Antão Gonçalves, gu_?.rda-ro_upa do rei, apresando meia duzia de azenegues na expediçao ao no do Ouro, para mostrar. a D . Henrique, que além de peles, azeite, lôbos-1~arinhos e avós• ~e avestruz, a · costa africana t inha outra mercadona para exploraçao em grande escala, começou o comércio da escravidão. J á no tempo de Garcia Rezende eram êles tão numerosos em Portugal, que o poeta fazia êste reparo : "Vemos no Reyno meter Tantos captivos crescer, e iremse hos naturaes, . que, se assi for, serão mais elles que nós, a meu ver", Aponta-se a atuação dos dominicanos no _Haij;i com o _êxitq de Bartolomeu de Las Casas na emorêsa de colomzaçao daquelad fha como a origem da presença do africano e~ no!3s_q so_lo. Para ~ en– der a llberdad_e do gentio ou sanar a _sua mefi~iencia n~ lavo1pa da cana e extraçao de madeiras os jesu1tas repetiram aqui ª· llçaq que lhes ofereciam as índias de Castela. E o braço negr~ veio ac10nar as moendas, trazendo das feitorias africanas o marfrm e a ma- lagueta... • t Seja como fôr nós os perfilhamos e os fizemos nossos, mis u– rando-nos com êles 'no orocesso da colonizaç?,O. Guardamos _a sJa h~rança no sangue, na história e na economia. E por que nao i– ze-lo? na ternura e na humildade. . . l Isso explicará a relativa brandura que caractenzou, em gera; o processo da escravidão entre nós, comparado com o prec~dente de outros povos. As cenas e quadros aue escaparam da . rotma para adquirir uma pintura estranha aos hábitos de uma sociedade mrd~– rada ; os exemplos que desgarraram do curso n!)i:mal_ dos acqn eci– mentos para incidir nos excessos de penas contranas a ~ossa mqo~, não justificam a teoria de haver sido a escravatura aqui umtpeno tº de bárbaros. Não A propaganda abolicionista carregou cer amen e nas côres do quadro, mas nunç~ levou•sua intenção ao&exageros com
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