Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVIST A DA .ACADEMIA PAR-AENSE DE LETRAS "Palmares, a ti meu grito A ti, barca de granito, Que no soçobro infinito Abriste a vela ao trovão, E provocaste a rajada. Solta a flâmula agitáda. Aos burras da marujada. Nas ondas da escravidão". 63 A mu~~ de.Castro Alves não se deteve em fixar aspectos que, por acaso, .ia estivessem emoldurados por outros paisagistas Pro– curou situar-se no. d_rama, descendo às suas raízes em apelos· que se gravaram na memoria.: d_e todos pelo arrebatamento com que os mar– cou o poder de seu gemo : "Fatalidade atroz (!Ue a mente esmaga 1 Extine-ue nesta hora o bri!!"ue imu1uto O trilho que tolomllo abriu na vaga Como um íris nn péla !!"O profundo ! Mas é infâmia. de mais ! Da eterna plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo, · Andrada ! arranca êsse pendão dos ares ! Colombo! fecha a porta dos teus mares!" A razão PQr aue Castro Alves polàrizou as atenções gerais tor– nando-se por excelência o poeta dos escravos. é que em nenhuma de· :;;11as prod~c9es voou tão alto _como naauelas em que abordou os tem::ts da escnw1dao. O ngero fot o grande motivo de sna musa. Não desceu êle a desi::rever miudamente as cenas do cativeiro. Pintou painéis. '1:'raduziu em imagens os episódios ligados à servidão hu– mana. Alteou-se em protestos one ganharam intensidade. impri– mindo ao debate acento éPico. Registrou em "Cachoeira de Paulo Afonso" certos aspectos dolorosos da vida das fazendas : e em "Gon– zaga", obra que pôs em jôgo suas oualidades de dramature:o. fêz 'um ensaio das aspiracões do negro entre nós. Em "Vozes d'Africa" é aue se encontram reunidas. porém. tôdas as virtudes que fariam dêle o intérnrete mais autorizado d::i. campanha redentora em nossas cor– rentes literáriAs. pelo tom profético. vocacão cósmica, noder criador. Antes dêle, o tema era um brinquedo n::is mãos de nossos poe– tas e 1'lrosadores. Seduzia a imaginação pelo seu tom pitoresco e • sensual. Vivíamos aquela época aue se chamou, com propriedade, o "ciclo das mucamas". Tudo se passava na roca. numa atmosfera de roman~e. entre o chicote do feitor, o olhar lascivo do "sinhô moco", o ore:ulho de falá e os dengues da mucama. Foi dentro dêsse cená– rio qne Bernardo Guimarães escreveu a. história de uma tafnla mu– la.ta nas páginas de seu livro. "A escrava Isaura" ; que Machado de Assis compôs o poema de Sabina : "Sabina era a mucama da fa,:enda : Vinte anos tinha : e na urovincia tôda Não havia mestiça mais à moda, Com suas roupas de cambraia e renda". one Artur Azevedo tecen a trama de uma lírica narrativa, intitulada "Escrava" : oue Gonçalves Crespo deu vida a uma intriga amor~sa aue se tornaria, aos embalos da toada. a cortina musical do cativeiro, através dos seus quatro capítulos em versos : "Mostraram-me um dia, na roca dançando, Mesti(!a formosa de olhar azougado". Basta enunciar o comêço. Quem não conhece o resto ? ...J

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