Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

62 REVISTA DA ACAD!l:MIA PARAENSE OE LETRA$ O AÇOITAMENTO DOS ESCRAVOS De OSWALDO ORICO (Da Academia Brasileira de Lctl'as) Quando Harriet Beecher Stowe começou a escrever a famosa novela "A Cabana de Tio Tomá s", seu principal cuidado foi ler a um grupo de crianças o capítulo inicial, em que dois homens de índole diversa, Shelby e Haley, discutem a venda do velho negro . Sentindo as lagrimas a florarem aos olhos dos pequenos, adivinhou que o livro, aparecido em 1852, alcançaria a repercussão que realmente teve, le– vando a humanidade a comover-se com a sorte dos escravos . q_ realiSf!lO.dos qua~ros, Ul)ido à int~nção qa _obra, produziu a revoluçao economica e social do seculo, abohndo o cativeiro e deixando nas letras a marca daquêle processo de persuasão que imortalizou o valor documenta l e apaixonante da novela. . Realizado seu objetivo nos Estados Unidos da América ficou uma esoécie de bíblia para os outros povos que ainda debatiam o pro– blema da a lforria dos negros, através da arma com que a autora con– ouistou a simpatia universal para a sua causa, falando indiretamente à ternura humana . O livro correu mundo e penet rou ma is fundo em tôdas as so– ciedades em que ainda se fazia sentir o pêso da escravidão. Escrito para um ambient e, estendeu-se a todos os climas da terra condu– zindo em suas páginas a mensagem que t oca ria o sent imento das criaturas inclinadas à piedade. Explora dos os veios do sugestivo tema através de um romance q~e contagiou sua época, tiveram de apelar os abolicionistas brasileiros para outras formas de ação no combat e em favor dos escravos. · A poesia e a eloquência foram aqui os arietes com que executa– mos a política ditada pe~as circunst â ncia~-- S~ _quiséssemos estabe– lecer um roteiro para a hterat ura da a bohçao, inamos encontrar nos versos e n a oratória os elementos plásticos que ajudaram a manu– missão do negro . Ambos desempenharam agui o mesmo papel que, nos Estados Unidos. l!Oube à obra da r oma ncista de Lichtfield . A princípio. timidamen t e, a parec~ram a s p_rimeiras cenas da vida rural r etratadas nos versos de TraJano Galvao, Tobias Barreto, Castro Alves. Os eitos e as senzalas pass~ram depoi~ a ser remarca – dos em tintas ma is vivas ; e começou a Jorra r em imagens e após- 1-rofes o rio abolicionista, cu.ias n ascent es se encontram nessas penas vot ada s à jornada de uma idéia . Sob~etudo em Cas~ro Alves, a quem caberia o primado entre todos, p elo vig9r pue sua hr!1, emprestou ao movimento, traduzindo as cen ~ do cative1r_o em pá_gmas que se in– corpora r am às ant ologias çla h9gua. e defmem_ o mstante ~m que fo,ram escritas. Ainda hoJ~. _nao ha q,1?-err! de~xe de experrmenta1· gra nde emoção a o ler "Tragedia do la r . Navio Negr eiro", "Vozes d'Africa". a pelos dramáticos em riue o poet!), e~carnou como ninguém 0 verbo de sua pátria na:_ luta contra o cat1ve_u-o . Entre t an t as pro– duções admiráveis, que _n3:o p~rçl.e_r am seu conti.n gente de b~~eza, ail!,da que desaparecido o obJ et1'lo m1c1a l, t em lugar d~stacado Sauda çoe.~ a Palmares" . Nã o é das l)lais fa_mosas e r epetidas ; é, ~o~érp., dos mais e,pressivos e ca ract ens ticos esse canto de amor e sohdanedade que fiXou a conceptração negra na Seri-a <;la Barriga ;

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