Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA J?A ACADEMIA 'PARAENS~ DE LET~A:S Sombra De Meio Dia • de Adàlcinda Cada pássaro tem a sua árvore predileta : frondosa, galhos anântos, verde ou sêca, é à sua sombra que êle vai cantar o seu prelúdio e a sua balada. A árvore aue eu escolhi guarda o éco da minha voz na própria seiva e dá-me de beber à sua vertical sombra de meio dia. Caminho para a morte amando a vida que dos meus lábios escorre como a água das plantas encharcadas. Cada passo, cada olhar, cada lágrima e anseio sorvo-o sem pressa, em silêncio, na unidade imprecisa do instante. Esta casta sombra que me abraça de leve e que paradoxalmente cai sôbre o meu corpo, traz a conspiração dos caminhos que o verso percorre, à procura de um som mais puro e simples. Esta saudade . . . Sim, esta saudade física e maternal é que me :,esa sôbre os olhos. Oh ! caminhada clara e arfante 47 sôbre rochedos e búsios à flôr dágua escondidos ! Oh ! sombra humilde que beijas a planta dos meus pés, escusos, uor sôbre os camuos dó vale. Dá-me um dia mais aue eu quero ouvir lindo lindo meu filho resar o Anjo . . . ~lém,. as· crianças aguardam .º ~dvento da paz prometida sobre as nuvens, sôbre o Atlanbco, e o sol arde em lágrimas e esperancas amarrotadas sôbre as tribos dos irmãos perseguidos, sôbre a terra imatura e suas flôres e seus frutos ! Eu quero reunir o meu povo descalso e faminto e dar-lhes notícias felizes num canto liberto ! Mas auero que tú compreendas, Senhor, porque é que _amando tanto a vida as vezes prefira o caminho leve da morte !

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