Revista da Academia Paraense de Letras Agosto 1953

REVISTA DA ACADEMIA PARÂENSE DE LETRAS 4:i logo de comêço, ao grafar o seu titulo, violou a lei fundamental da linguagem escrita, cuja exigência precipua assenta no emprêgo de palavras tais que trans– mitam, integralmente, ao leitor o pensamento de quem as escreveu. O têrmo "esquecido" tanto pode significar "não lembrado, olvidado, descuidado" como "paralítico, léso, insensivel". Mésseder julga que a designação de esquecidos acha o seu significado no fato de os acadêmicos se esquecerem de comparecer às sessões ... . Mais tarde a Academia mudou de nome e passou a chamar-se sucessiva– mente: dos "Felizes", "'Fr!!nci,scana Flumi1'ens~" deis "Selétos",, . dos "Renascidos", "Arcádia Ultramarina", de º'Literatura", de "Letras", e final• mente, desde 1897 (20 de julho) "Academia Brasileira de Letras", que éonserva até agora. Seguindo o exemplo da cidade maravilhosa, as academias começaram a aparecer nos Estados. Umas, encontrando o seu Mecenas, como a do Amazonas, que logrou a proteção do interventor Nelson de Melo, tem sede própria, mobi– liário, biblioteca, etc. Outrâs, levam vida nômade, deslocando-se de um lâdo para outro, acolhidas por favor, aqui e além, não possuindo nada de seu, nem livros, nem revista, nem arquivo, papél, nem tinta, nem nada. São, por assim dizer, vir– tuais, existindo somente, '1ª imaginação dos que a compõem. Dos seus quarenta membros, raros são aquêles qué comparecem às suas espaçadas sessões. A elas caberia, talvez, melhor o rótulo de Academia dos Esquecidos ,enquanto que a · Brasileira de Letras, a mais veneranda e de mais destacado vulto, faria mais júS ao titulo de Academia dos Felizes, porque encontrou quem lhes legasse uma fortuna, cuja renda lhe permite remunerar, régiamente, a comparência dos acadêmicos, assim como estatuir prêmios para obras literárias, publicar re– vistas, etc. Senhores. Das exigências protocolares, outrora norteadoras do ingresso de um futuro imortal para a Academia Frances:i uma se conservou, serena, varando a espessura densa de três séculos, par:i chegar. inalterável, até os nossos dias : - a cerimônia da recepção, que se desdobra, principalmente, em duas partes, o discurso encomiástico ao patrono da cátedra, feito por squêle que entra para a Academia e a alocução laudatória ao recipiendário do titulo honorifico, produzida por um acadêmico, já em plena função. Q~ando, de uma feit:i, alguém interpelou Voltaire sôbre as Memórias da Academia Fra,:,.ceza, êle respondeu que nada tinham de extraordinário; porque mais não eram que sessenta volumes de cumprimentos. O vulgo mordaz da atualidsde chama a nossa companhia de Associação do Elogio Mútuo, o que sempre é me_lhor do .que se fõsse o cenáculo do desafôro reciproco. · Duas vezes na minha vida já me vi em situação igual a em que me acho agora : - a primeira, já lá vão mais de duas décadas, quando, no Rio, pude transpor o pórtico da Academia Nacional de Medicina, a mais notável e vetusta corporação médica do pais, e a segunda, há oito anos passados, sob o céu azul de Manáus, na Académi:i Amazonense de Letras, onde as demasias da i::enerosidade de seus imortais quizeram que eu perpetrasse uma conferência htero-cientiflca. Em nenhuma daquelas solenid!ldes - eu vos afirmo - experimentei a se!lsação porque passo, neste momento, em que o meu olhar revoca, dentro de mu~ as sombras do passado e retira das trevas o vulto de dois amigos. contem– poraneos de estudos no Ginásio : - um, que se partiu para todo o sempre - Gaspar Viana - o sábio, talentoso e bom, cuja vida eu comparo a uma dessas est_rela~ q~e, com brilho desmedido, r isc:im, um instante só o negro denso da nmte_ •~ummam-no extraordináriamente e ao depois desaparecem, tragadas pela ·amphdao do espaço etéreo ; o outro, é Acilino de Leão, inteligência fúlgura e vivaz, sempre e sempre e sempre a derramar os seus clarões ·onde que·c__que -se mostre . As flores . . . de retórica que. certo, o vereis atirar-me, perfumadas pela magia de um verbo encantador, considerai-as senhores, o que elas são na re!!li– dade : - o bom dia obrigatório e clássico, que se dá a quem quer que entre esta casa e niio lhe deseje arranhar n tradição. ·

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